No livro Meu legado espiritual, James Houston, lança um olhar crítico sobre a cultura cristã e secular que nos cerca. Com isso, ele questiona tanto os princípios do humanismo secular quanto do cristianismo profissional. No centro da visão de Houston sobre a vida cristã está o relacionamento com Deus. Hoje - quando tecnologia frequentemente excede ou distorce relacionamentos humanos e deixa muitos de nós com um sentimento profundo de solidão, temos dificuldade de lembrar o que significa ser íntimo do próximo. Houston usa a noção de ética - "ética é viver na presença do outro" - do filósofo Emmanuel Levinas para delinear suas ideias. Houston diz o que o cristão diz a Deus não é "aqui está tudo o que penso e sinto sobre você", mas "aqui estou, nos relacionemos".
Houston gosta de trabalhar a ideia de cultivar a vida interior na presença do Eterno Deus. Há uma amigo precioso, Ricardo Barbosa, que tem o Houston como seu mentor e amigo do coração. Barbosa sempre diz que Houston é uma dessas pessoas que nos faz ir lá dentro da nossa alma e questionar as motivações dela.
Ricardo Barbosa cita no livro uma experiencia preciosa: "Num retiro com um pequeno grupo de pastores, aqui perto de
Brasília, um jovem pastor o chamou para uma conversa pessoal
e me pediu que os acompanhasse. Depois de alguns minutos
em que o pastor expôs as lutas e as crises por que passava, o
dr. Houston, com poucas palavras, mas com muita sabedoria
e discernimento, descortinou tudo o que aquele jovem pastor
gostaria de ter dito, mas não disse. Enquanto caminhávamos para
o almoço, aquele pastor lhe perguntou: como é que o senhor,
que nunca me viu antes e com tão pouco que lhe falei, conseguiu
penetrar tão profundamente em minha alma?. Sua resposta foi
simples e surpreendente: “eu não conheço você e não sei nada a
seu respeito, apenas conheço as minhas dores e as minhas feridas;
são elas que me ajudam a compreender as suas”.
James Houston diz que a nossa vida não tem aspectos apenas pessoais, mas também
públicos. O aspecto público da vida cristã deveria alimentar nosso
crescimento em Cristo, mas, ao invés disso, parece mais criar
confusão.
Houston diz que a nossa singularidade
pessoal é apreendida na realidade do amor de Deus por nós, e
somente então a vida cristã se torna comunitária. Quanto maior
nossa segurança em Cristo, mais decididos estaremos a fazer o
que a verdade nos chama a fazer. Nossa singularidade e nosso
crescimento em santidade andam juntos. Todavia, quanto menos
percepção tivermos de nossa identidade singular em Cristo,
mais indecisos, transigentes e vazios seremos, e mais aceitaremos
o consenso popular. Ficaremos satisfeitos na multidão, fazendo
o que os outros fazem e nos comportando dentro das normas da
moralidade convencional.
Gosto demais da veia de espiritualidade proposta por Houston nesse livro profundo e desafiador para o nosso coração.
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