segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Relacionamentos melhores entre os líderes....Por Charles R. Swindoll


Há vários anos eu estava jogando squash com outro pastor. O placar estava apertado. A vantagem ia e voltava. De repente, como se movido por uma injeção de adrenalina, o sujeito acabou comigo. Os saques ficaram poderosos, sua jogada ficou impecável, sua precisão nos arremessos baixos nos cantos tornou-se mortal. Eu sabia que ele era bom - mas não tão bom!Claramente derrotado e encharcado de suor, eu o segurei pelos ombros e disse: “Ok, Hércules, o que deu em você? De onde você tirou isso? Como você conseguiu isso?”“Bem, Chuck”, ele disse, sorrindo largamente, “eu joguei além da minha habilidade. Isso teve início quando comecei a pensar a respeito da reunião de líderes na noite passada. Eu fui ficando mais e mais zangado e arrebentei a cara do diácono dentro dessa quadra!

É incrível como uma reunião ruim com a diretoria melhora o meu jogo”. Nós rimos e fomos para o chuveiro. Eu pensei nisso uma dúzia de vezes desde então, e me lembrei disso quando a igreja dele passou por uma divisão devastadora, que deixou o ministério numa bagunça e ele e sua família em amarga desilusão.Não me entenda mal; há muito para dizer sobre descarregar hostilidade em um jogo de squash ou numa partida de futebol.

Quem sabe quantos pastores mantêm sua sanidade intacta por causa de tais válvulas de escape. Talvez seja por isso que nós jogamos com tanta ferocidade.Mas a necessidade de um melhor relacionamento entre pastores e membros da liderança é aparente e, em alguns casos, aguda.Quando as conversas com os colegas ministros vão para além da superfície, esse assunto é freqüentemente mencionado. Não é incomum membros de liderança de uma determinada igreja entrarem em contato comigo por causa das lutas com seus ministros. “Como podemos fazer perguntas difíceis sem dar a impressão errada?” - eles perguntam. “O que faz com que ele seja tão explosivo e fique tão na defensiva?”Nossa situação me lembra de uma descrição de conversações de guerra feita pelo ex-secretário de estado norte-americano Dean Rusk: “Nós negociamos “olho-no-olho”, e cada lado tem medo de piscar”. Infelizmente, isso não se restringe ao cenário político.Possíveis conflitosOs conflitos entre um pastor e sua diretoria não se limitam a uma ou duas áreas de tensão.

Temos aqui apenas algumas possíveis zonas de guerra:


1.Confusão sobre os objetivos. Um pastor pode pensar: “Eu explico para onde a igreja está indo e freqüentemente reviso como podemos chegar lá, mas os membros da minha liderança não parecem interessados”. Um membro de sua liderança pode estar pensando (acredite se quiser): “Eu gostaria que o pastor nos dissesse o que estamos tentando fazer como igreja. Não consigo ver o quadro geral”.Relacionamentos desfeitos podem cegar e deixar surdo. As palavras que saem da boca de uma pessoa podem nunca entrar nos ouvidos de outra, ou pior, podem ser ouvidas de modo distorcido.


2.Treinamento e discipulado. Os pastores muitas vezes declaram: “Eu gostaria que a minha liderança tomasse as rédeas, mas eles parecem relutantes em receber treinamento, especialmente de mim”. Para mim, alguns desses membros da liderança respondem silenciosamente: “Nosso ministro diz que ele gostaria que nós nos envolvêssemos mais na liderança, mas ele não é apenas eficiente, ele é supereficiente. Como poderíamos ajudá-lo?”


3.Estilo tradicional versus estilo contemporâneo. Um pastor jovem freqüentemente quer que a sua igreja se volte para as necessidades atuais nos termos de hoje. Com vigor, ele força a questão da contemporaneidade e isso envolve música, estilo de adoração, vestimenta, programas para os jovens e outros tópicos por muito tempo intocáveis. A liderença, sem confiar em seu comendo e temendo o desconhecido, rejeita as mudanças. “Por que nosso pregador não pode simplesmente pregar a palavra, visitar os doentes, casar, e enterrar e fazer o básico? Antes que a gente perceba, vamos perder nossos membros mais velhos”.


4.Desejo de conhecer um ao outro. Um pastor pode suspirar e dizer: “Eu percebo que o nosso relacionamento seria mais produtivo se eu pudesse realmente conhecer as pessoas da minha diretoria, mas de algum modo, isso não acontece”.Um líder leigo pode estar pensando “Eu daria tudo para conhecer melhor meu pastor. Mas, quem sou eu para tomar o tempo dele? Ele está sempre tão ocupado, além disso, ele tem muitas pessoas que precisam da ajuda dele. E se ele vier a me conhecer, ele pode não me respeitar do mesmo modo”.Esses exemplos poderiam ser facilmente multiplicados. Raízes do problemaOs líderes da igreja muitas vezes entram em conflito porque eles abordam as situações difíceis de perspectivas diferentes.

Veja alguns exemplos:


1.Os pastores possuem uma perspectiva teológica ou bíblica, um método para resolver problemas que eles provavelmente aprenderam no seminário. Os membros da liderança resolvem os problemas de maneira pragmática, um método baseada na experiência que eles aprenderam nos negócios. É o atrito do idealismo com o realismo.


2.Os pastores vivem na cultura da igreja. Eles lutam, pensam, oram e conversam sobre temas partindo da “mentalidade de estufa”. Mas e os membros da diretoria? Eles vivem e trabalham no mundo “real” e paralelamente lutam com problemas relacionados à igreja. Nos encontros da liderança, o pastor está em solo familiar, o leigo em solo estrangeiro.


3.Os pastores se identificam com seus ministros, então seus egos ficam entrelaçados em assuntos de difícil discussão. Os membros da diretoria são, com freqüência, mais objetivos e menos sensíveis sobre as questões da igreja. É fácil os pastores se sentirem pessoalmente atacados (especialmente se eles forem inseguros) quando os membros da diretoria estão determinados a resolver o problema (especialmente se eles são insensíveis).Pessoas com perspectivas diferentes se parecem muito com dois navios passando numa noite de neblina, movendo-se em direções diferentes, sem poder ver um ao outro. Exceto por umas lanternas, o barulho dos motores, e o forte som de uma buzina; é como se eles estivessem sozinhos no oceano. Há sempre a ameaça de uma colisão.Talvez os atritos periódicos de Jesus com sua “liderança” de doze fossem intensificados por causa disso. Ele descreveu-lhes uma perspectiva diferente do Reino de Deus. O que é necessárioJesus se comprometeu profundamente com aqueles homens. Como diz Marcos 3.14: “Então escolheu doze homens para ficarem com ele e serem enviados para anunciar o evangelho. A esses doze ele chamou de apóstolos”. Antes que eles fossem enviados para pregar, os discípulos deveriam passar um tempo com Ele. Se eu entendo essas palavras corretamente, eles realmente tinham que conhecer um ao outro. Eles viajavam juntos, passavam noites juntos, comiam juntos, tiravam folga juntos, discutiam e resolviam problemas juntos, avaliavam suas vidas e sua missão juntos.Robert Coleman, no livro The Master Plan of Evangelism (O plano mestre do evangelismo), resume bem a idéia:“Freqüentemente Ele levava-os para um retiro em alguma área montanhosa do país… O tempo que Jesus investiu nesses poucos discípulos era tão maior em comparação com o tempo dado a outros que só pode ser considerado como uma estratégia deliberada. Ele realmente passou mais tempo com seus discípulos do que com todos os outros juntos”.Problemas a resolverEnquanto eu escrevo isso, quase posso ver sua testa franzida. Dois problemas nos fazem questionar esta possibilidade:Problema 1 - “Isso é difícil.” Minha resposta: “Você não está brincando!” Eu gostaria de poder dizer que estou fazendo todas essas coisas. Não estou, e muitos outros também não.

A disponibilidade para ser honesto, disponível e confidencial é rara. O isolamento está mais na moda - especialmente para pastores evangélicos. Estudos psicológicos revelam que nós tendemos a ser mais estudiosos e introvertidos do que o líder médio. Podemos atrair os membros da diretoria com traços de personalidades semelhantes. Um cômodo cheio de introvertidos não dá um grupo extrovertido, do tipo 'vamos ser amigos'. Além disso, tornar-se amigo de oito, nove ou dez pessoas, exige muito tempo e energia.

Peter Drucker diz que você não pode esperar alcançar nada num encontro de menos de quarenta e cinco minutos. Um encontro intenso de quarenta e cinco minutos suga a criatividade que a maioria dos pregadores preferiria pôr na preparação de um sermão e que a maioria dos líderes leigos preferiria gastar em algum negócio. A tarefa sofre uma complicação a mais por coisas tais como preferência pessoal (“Eu gosto mais do Russel do que do Harry”), e acontecimentos como rotatividade (justamente quando você está começando a conhecer o Frank, o mandato dele na diretoria acaba ou ele se muda da cidade). Problema 2 - “Isso é arriscado.” Os dois lados devem estar dispostos a ser rejeitados e ter seus erros apontados de vez em quando. O que é arriscado.Uma pesquisa de liderança mostrou que leigos geralmente vêem os pastores como tendo mais deficiência na área de fazer amigos do que os pastores pensam que realmente são. Essas áreas que não vemos são dolorosas de admitir.Outro obstáculo é o pedestal onde os pastores muitas vezes são colocados, mesmo que trabalhemos duro para ficarmos fora desses “poleiros” perigosos e antibíblicos. Na mesma pesquisa, 14% dos pastores estimaram sua vida espiritual como “excelente”, embora 46% dos líderes leigos considerassem que a vida espiritual de seus pastores era “excelente”.Conhecer um ao outro significa que falsas imagens devem ruir e as formalidades que trazem mais distância devem ser postas de lado. Um tratamento pelo primeiro nome e um estilo desprotegido, de quem deseja dar e receber devem, de algum modo, ser encorajados.Algumas sugestões práticas....

Como os pastores e as lideranças podem cultivar relacionamentos interpessoais melhores?


1.Separem tempo juntos entre as reuniões oficiais, seja um a um ou com apenas alguns.

Pode ser na casa do pastor ou de um dos membros (com os cônjuges) à noite, ou para um almoço. Amanhã de manhã eu tenho um encontro no café da manhã com cinco membros-chave da diretoria, para trabalharmos um assunto para nossa sessão administrativa do próximo domingo. Mas algumas vezes o encontro pode ser simplesmente para propósitos sociais. Eu aprendi que preciso planejar esses momentos com bastante antecedência, ou então eles não acontecem.


2.Saiam para retiros de uma noite. Uma das melhores decisões que tomamos anos atrás em nossa igreja foi ter retiros do pastor com os líderes pelo menos duas vezes por ano. Estes foram grandes momentos para ir além da superfície, bem como para avaliar nosso ministério. Nós comemos juntos, aproveitamos para rir (nós precisávamos), e tivemos momentos maiores de oração um com o outro. Dividir os quartos por uma noite também ajuda a quebrar barreiras entre as pessoas. Nós sempre voltamos mais próximos e em melhor harmonia. Comece a fazer isso, talvez uma vez por ano, logo depois da eleição anual dos novos membros da diretoria. Falando nisso, é imperativo que todos estejam presentes nesses momentos.


3.Traduza as atitudes em ações. Você ama seu cônjuge, mas expressá-lo com certeza ajuda no relacionamento. Você gosta de estar com seus filhos, mas um abraço caloroso comunica sua atitude. Os pastores e membros da liderança precisam dizer um ao outro como eles são agradecidos pelo tempo, energia e compromisso de cada um.Mensagens escritas são apreciadas. Um aperto de mão sincero e firme, e um olhar nos olhos nunca deixam de encorajar. Um telefonema é outro modo de traduzir sua atitude em ação.


4.Apóiem cada membro da diretoria. Nós já temos inimigos suficientes; cada um de nós luta com pensamentos que nos diminuem o suficiente. Vamos nos tornar leais em nosso apoio um ao outro, especialmente na ausência do outro.Se nós temos áreas de discordância, e teremos, vamos trabalhar nelas face e face, de modo cortês e confidencial. Pastores, não usem o púlpito como martelo para resolver discussões. Membros da diretoria - vamos selar nossos lábios quando prejuízo pode ser trazido ao ministério por uma língua fora de controle. E, quando a coisa ficar feia, jogue squash. Ninguém precisa saber por que você de repente começou a jogar melhor. Charles R. Swindoll fundou a missão Insight for Living (Razão para viver) que possui um programa de rádio que vai ao ar em mais de 2 mil estações em todo o mundo, em 15 diferentes línguas.

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Swindoll foi presidente do Seminário Teológico de Dallas, no Texas, onde atualmente serve como deão. É autor de mais de 70 livros, dentre os quais vários best sellers, como a conhecidíssima série Heróis da fé, publicada no Brasil pela editora Mundo Cristão.

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