domingo, 3 de agosto de 2008

Oração centrante....

Tendemos a identificar-nos com aqueles que amamos. Tentamos entrar em suas almas e nos tornar o que eles são, pensando como pensam, sentindo como eles e experimentando o que experimentam. Mas não há verdadeira intimidade entre almas que não sabem respeitar a sua mútua solidão. Não posso unir-me a outra pessoa cuja personalidade o meu amor tende a ofuscar, absorver e destruir. Nem posso despertar verdadeiro amor numa pessoa a quem o meu amor convida a afogar-se no próprio ato com que ela me cumula. Se conhecemos a Deus, a nossa identificação com os que amamos será modelada por nossa união com Deus e lhe será subordinada. Assim, o nosso amor, para alçar-se à consciência da sua grandeza, começará por conhecer as suas próprias limitações. Pois, por nós mesmos, ficaremos sempre separados e distantes uns dos outros, ao passo que, em Deus, poderemos ser um só com aqueles que amamos.
Impossível encontrá-los em Deus, se antes não nos achamos perfeitamente nEle. Devemos, pois, ter o cuidado de não nos perder a nós mesmos procurando-os fora de Deus. Pois o amor não ocupa o abismo existente entre o nosso ser e o amado. Há uma ilusão de unidade entre nós quando os nossos pensamentos, palavras ou emoções nos arrebatam fora de nós e, por um instante, nos suspendem juntos sobre esse vácuo. Mas, passado o momento, temos de voltar a nós mesmos ou cair no vácuo. Não há verdadeiro amor senão em Deus, que é a fonte do nosso ser e do ente amado." Muito bom esse texto - para mim e para muitas pessoas que conheço. As mulheres, tendemos muito, talvez até inconscientemente, a buscar uma quase simbiose com aqueles que amamos. E nos frustramos tremendamente, porque isso é impossível. Até que a gente comece a perceber que isso não funciona, já apanhamos um bocado!
A Oração Centrante é uma ferramenta valiosa nessa auto-descoberta. Vamos devagarinho percebendo que é em Deus que podemos realmente estar unidos a todos - é nEle que vivenciamos a 'Comunhão dos Santos'. Sem simbiose, sem apegos.
Thomas Keating fala muito nessas identificações, não só com os que amamos, mas até com nossos pensamentos, nossas emoções, nossa cultura e tantas outras coisas.
O 'desmantelamento' começa quando começamos a nos dar conta na meditação, de que podemos deixar que um pensamento passe, que uma emoção passe, um sentimento passe, durante a oração. E o pequeno milagre de nos des-identificarmos com eles vai acontecendo. Daí, nossas atitudes começam a mudar. Posso ter um pensamento bom ou ruim e deixá-lo passar, desapegar-me dele. Daí vejo que também se um acontecimento/situação que antes me derrubava, me deixava alterada, perturbada pode vir e eu não preciso me identificar com ele, não preciso me desesperar. É na calma, na tranquilidade, no silêncio, na entrega, que me virão as luzes, a força, a paz que preciso para lidar com aquilo. A Graça de Deus se manifesta na minha fraqueza.
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(MERTON, Homem algum é uma ilha. pg. 146).

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