quinta-feira, 31 de julho de 2008

Convites espirituais para o nosso coração na presença do Pai

- Texto para reflexão: "Tão-somente tende cuidado de guardar com diligência o mandamento e a lei que Moisés, servo do Senhor, vos ordenou: que ameis ao Senhor vosso Deus, andeis em todos os seus caminhos, guardeis os seus mandamentos, e vos apegueis a ele e o sirvais com todo o vosso coração e com toda a vossa alma" (Josué 22.5).

Há alguns convites espirituais para o nosso coração na presença do Pai:

1. Tenhamos cuidado de guardar com diligência o mandamento e a lei que Moisés, servo do Senhor, nos ordenou:

Diligência e cuidado no mandamento, é o que Deus pede de nós. Somos perfeitos nisto quando se trata de guardar dinheiro. Não tropeçamos nos negócios porque somos diligentes. Morrermos de medo de errar nesta área porque se não a casa cai! Deveríamos ser assim também na relação espiritual. Deveríamos olhar para os mandamentos com esta diligência e com este cuidado. Por isso, o texto nos exorta a cuidarmos da Lei dentro de nós.

2. Amemos ao Senhor nosso Deus: amor é a base para andarmos com Deus:

Josué sabe que a única maneira do povo andar fiel e amando a Deus. Por issi, ele apela para este item na vida espiritual do povo. Sem amor não anda nada na igreja. Sem amor pela causa não anelamos o Reino e a Palavra de Deus.

3. Andemos em todos os seus caminhos:

Interessante que Josué queria andar no mesmo caminho que Moisés. O texto de Êxodo mostra que ele não se apartava de Moisés. A razão é simples, era o caminho para Deus. O caminho de Deus é perfeito e por isso, Josué não se deixava desviar e desejava isso para o povo. Hoje, nós precisamos andar neste caminho perfeito para sermos edificados.

3. Guardemos os seus mandamentos:

Em Pv. 7.2 o texto diz que devemos guardar o mandamento e viveremos. É pelos mandamentos que alcançamos uma vida de vitória e seriedade no Reino de Deus.

4. Nos apeguemos a ele e o sirvamos com todo o nosso coração e com toda a nossa alma:

Não dá para viver a não ser pela graça e presença de Deus em nós. Josué sabe disto e por isso, deseja que o povo experimente esta realidade no coração. Termino citando Max Lucado em seu livro 365 bênçãos: textos bíblicos comentados para inspirar sua vida:

"Você pode conversar com Deus porque Ele ouve. Sua voz é importante no céu. O Senhor leva a sério o que você diz. Quando uma pessoa entra na presença de Deus, toda a atenção é dedicada a ela. Não tenha medo: sua voz não será ignorada. Mesmo que você gagueje, hesite ou não impressione ninguém com aquilo que tem a dizer, mesmo assim Deus se importa e ouvirá sua voz" (LUCADO, 2008, p.5).
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Pr. Alcindo almeida

Aprofundando nossa conversa com Deus........


Entrevista histórica com Henri Nouwen e Richard Foster.


Em 21 de setembro de 1996, Henri Nouwen faleceu de um ataque cardíaco em Hilversum, Holanda. Nouwen foi um padre católico e psicólogo, melhor conhecido entre os pastores protestantes pelo livro “O ferido que cura”. Um dos temas de Nouwen era viver nosso quebrantamento debaixo da bênção de Deus. Em uma entrevista, Nouwen disse: “Muitas pessoas não acreditam que são amadas, protegidas e então, quando sofrem, encaram isto como uma afirmação do seu pouco valor. A questão do ministério e da vida espiritual é aprender a viver nosso quebrantamento debaixo da bênção de Deus e não de maldição”.Em 1982, a revista Leadership publicou uma entrevista com Nouwen e Richard Foster sobre o que os líderes das igrejas precisavam fazer para conhecer a Deus.

Fundador do movimento Renovare, Foster escreveu, entre outros livros, Oração e Celebração da disciplina. Após saber da morte de Nouwen, relemos a entrevista e ficamos tocados com sua sabedoria atemporal e atual acerca da vida espiritual. Oferecemos esta matéria novamente em memória do ferido que cura. Onde você se encontra atualmente em sua jornada espiritual?

Henri Nouwen: Estou em um dos períodos mais difíceis da minha vida. Muitas vezes senti minha direção espiritual ser certeira, clara. Atualmente, no entanto, tudo é incerto. Quando vim da Holanda para os EUA, me tornei um padre, um psicólogo e membro da Clínica Menninger. Fui professor da Universidade Notre Dame, ensinei na Holanda e voltei para dar aulas na Universidade de Yale. As pessoas começaram a corresponder mais e mais sobre o que eu dizia e isso provocou em mim uma sensação: “Sim, eu obviamente tenho algo para falar”. Deveria ficar feliz. Mas nos últimos meses estou cara a cara com meu próprio abismo espiritual. Nada deste sucesso me tornou mais santo ou aperfeiçoado.No semestre passado viajei pelo mundo e falei para multidões. Tudo isto criou uma noção de que eu estava no lugar certo, que havia chegado ao objetivo. Mas ao mesmo tempo meu mundo interno estava precisamente no lugar oposto. Mais e mais eu sentia que se Deus tivesse algo a dizer, ele não precisaria de mim. Encontrei-me experimentando os dois extremos: alta afirmação pessoal e uma grande escuridão.


Richard Foster: No passado, quando conheci a Deus, tudo era muito intenso. Uma vez passei três dias em jejum e oração. Após fazer isto, senti a necessidade de ligar para um homem com quem eu contava para orientação espiritual. Ele morava bem longe de mim, mas eu liguei e perguntei se ele podia vir orar por mim. Ele veio e eu estava pronto para me colocar diante dele e deixar que ministrasse ao meu coração. Ao invés disso, ele sentou na minha frente e começou a confessar seus pecados. Eu pensei: Eu é que deveria estar fazendo isto agora! Quando ele terminou e eu orei por perdão para ele, e ele disse: “Bem, depois disso você ainda quer que eu ore por você?”. De repente compreendi seu discernimento. Ele sabia que eu o considerava um gigante espiritual que iria me endireitar. Só depois de se expor e confessar seus pecados, é que colocou suas mãos e orou por mim.O que fez com que você acreditasse tão intensamente que precisava encontrar a Deus?


Foster: Desespero. Não tanto por mim no começo, mas pelas pessoas que eu enxergava que precisavam de ajuda. Depois comecei a sentir o quanto eu também precisava de Deus. Apesar do anseio profundo de passar tempo em solitude, muitos de nós nos sentimos encurralados pela demanda do ministério.Nouwen: Sou como muitos pastores: comprometo-me com projetos e planos e depois penso sobre como conseguirei fazer tudo. Esta é a verdade do pastor, do professor, do administrador. É inerente à nossa cultura que nos diz: “Faça o máximo que você puder ou você nunca conseguirá se destacar”. Neste sentido, os pastores fazem parte do mundo. Descobri que não é possível lutar contra os demônios do nosso ativismo de forma direta. Não posso dizer sempre 'não', a não ser que existam coisas dez vezes mais atrativas para escolher. Dizer não para minha luxúria, minhas necessidades e os poderes do mundo, requer uma enorme quantidade de energia. A única esperança que temos é encontrar algo tão obviamente real e atrativo ao qual eu possa dedicar todas as minhas energias e dizer sim. Desta forma não tenho tempo para dar atenção às minhas distrações. Uma das coisas para as quais eu posso dizer 'sim' é quando entro em contato com o fato de que sou amado. Uma vez que percebo que mesmo estando totalmente quebrantado, ainda assim sou amado, torno-me livre da compulsão de fazer coisas para obter sucesso.


Foster: Após terminar meu doutorado, fui a uma pequena igreja na Califórnia. Uma igreja “marginal”, que seria considerada um fracasso para os índices de pontuação de resultados eclesiásticos. Trabalhei, planejei e organizei determinado a mudar o rumo daquela igreja. Mas as coisas pioraram. A raiva parecia permear em todas as pessoas: os conservadores estavam irritados com os liberais, os liberais bravos com os radicais e os radicais irritados com todos os outros. Eu odiava ir às conferências de pastores porque eu não tinha nenhuma história de sucesso. Eu trabalhava com toda a força, mas não era bom o suficiente. Então passei três dias com o meu orientador espiritual. Ao final daquele tempo ele disse: “Dick, você precisa decidir se vai ser um pastor desta igreja ou um pastor de Cristo”. Aquele foi o ponto crucial. Até lá eu havia permitido que as expectativas das pessoas manipulassem a mim e minhas próprias expectativas.Vocês dois falam sobre receber orientação espiritual de outros. Como vocês descrevem um orientador espiritual?


Foster: Direção espiritual é uma idéia cristã. Significa ter alguém que possa ler a minha alma e me dar direção na caminhada com Cristo. Muitas igrejas chamam isto de discipulado.


Nouwen: A igreja em si é uma orientadora espiritual. Tenta conectar sua história com a história de Deus. Ser uma parte real da comunidade eclesiástica significa estar sob direção e orientação; somos dirigidos a fazer conexões. A Bíblia é um orientador espiritual. As pessoas precisam ler as Escrituras como uma palavra para si e perguntar onde Deus quer falar com eles. Por fim, cristãos são orientadores espirituais. O uso de uma pessoa na orientação espiritual tem diversas formas e estilos, assim como as pessoas. Um orientador espiritual é um cristão, homem ou mulher, que pratica as disciplinas da igreja e da Bíblia, para quem você está disposto a prestar contas de sua vida. Esta orientação pode acontecer uma vez por semana, uma vez por mês, uma vez por ano. Pode acontecer por dez minutos ou dez horas. Em momentos de solidão e crise, esta pessoa ora por você.Como um pastor encontra uma pessoa assim?


Foster: Esta busca por si só é uma grande aventura na oração. Peço a Deus que traga a mim alguém e aguardo pela salvação de Deus que virá. Minha primeira orientadora foi uma senhora que trabalhava durante muitas noites em um grande hospital. Seis vezes por semana até as oito da manhã, ao final do turno da noite, nos encontrávamos para orar, compartilhar e aprender, a partir de nossas experiências com Deus. Começamos a aprender o que significa caminhar com Cristo e a experiência foi ótima para nós dois. Mas muitos pastores não sentem que há alguém com quem possam conversar.


Nouwen: Se você está seriamente interessado em sua vida espiritual, encontrar um orientador espiritual não é um problema. Muitos estão à volta esperando o convite. No entanto, muitas vezes não queremos realmente nos livrar de nossa solidão. Algo em nós quer fazer tudo sozinho. Constantemente vejo isto em minha própria vida. Um orientador espiritual não é um ótimo guru, totalmente estruturado, é apenas alguém que divide as mesmas lutas e pecados e, portanto, revela a presença Daquele que é perdoador.


Foster: No pastorado no Oregon, percebi que precisava de pessoas que me ajudassem. De muitas formas eu disse: “Queridos, amo vocês e preciso de ajuda. Adoraria que vocês viessem à minha sala não apenas quando tivessem problemas ou quando estivessem tristes. Gostaria que viessem orar por mim a qualquer momento”. As pessoas começaram a vir e, por dez minutos, oravam por mim. Chegavam dizendo “pastor, vim orar por você”. Eu ajoelhava perante estas pessoas como sinal de submissão e deixava que orassem por mim.


Nouwen: Richard, gosto da idéia de pedir que as pessoas orem por você, mas para algumas congregações isto pode ser muito formal ou explícito. A primeira coisa para mim é comunicar às pessoas que eu adoraria conhecê-las. Em outras palavras, eu diria: “Venha e me diga como estão as coisas. Entre. Interrompa-me”. Sempre estou correndo com algum compromisso e preciso que as pessoas me digam “Pare! Você não percebeu que eu estou tentando lhe dizer algo”.Mas como você lida com as interrupções?


Nouwen: O que quero dizer é ter uma atitude espiritual de quem quer ser surpreendido por Deus. Entupimos nossos pensamentos com tantos compromissos que não temos tempo para ouvir a Deus. Deus não fala comigo apenas no começo ou no fim de um projeto, mas fala comigo o tempo todo, podendo dar nova direção no meio da questão. O ministro de certa forma é alguém desnecessário, desnecessário no sentido de que pode ser usado a qualquer momento por qualquer pessoa para qualquer coisa. Ontem eu falava com um padre da Filadélfia que me disse: “estou tão preocupado com o verão. Sou um padre branco em uma vizinhança negra. O que farei?”Eu respondi: “Ande pelas ruas. Deixe claro que você esta lá, disponível. Não precisa falar com todos o tempo todo, apenas esteja lá. Diga às pessoas que você não quer nada. Aja como se você fosse desnecessário, aguarde para estar com eles e amá-los”.De que forma o amor é melhor comunicado? Nouwen: Lembro-me de um estudante cujo pai nunca expressava afeto. O menino decidiu tornar-se um ministro e veio para a escola de teologia. Eu fui um de seus professores. Apesar dos outros me considerarem um bom professor, ele me disse: “Nunca gostei de nada do que você disse”. Sempre que vinha às aulas, ouvia um pouco e ia embora. Eu tentava ser interessante, mas ele não podia ouvir nenhum homem adulto falar nada, pois se lembrava de seu pai. Certa tarde ele estava doente e eu estava andando de bicicleta, quando percebi que estava próximo ao local onde ele residia. Decidi visitá-lo. Disse: “Pensei em você hoje. Está se sentindo melhor?” Ele respondeu: “Você veio me ver? Pensou em mim?” Estendi a mão para ele e disse: “eu o amo, realmente, por isso estou aqui”. Eu disse aquilo, pois realmente era o que sentia. Algum tempo depois ele me disse que, quando eu saí, ele chorou por horas, já que nunca tinha ouvido um adulto lhe dizer: “eu o amo”. Ele disse: “aquilo me ensinou tudo o que eu queria aprender”.Foster: Um dia senti que deveria ligar para uma ovelha; ele é capelão de uma universidade. Eu disse; “John, não liguei para você para pedir nada. Só queria dizer um 'oi'”... Do outro lado, ouvi um suspiro de alívio. Ele disse: “Estou tão feliz por você ter ligado”. Então ele começou a dividir suas íntimas necessidades. Uma das maiores expressões de amor é notar que as pessoas existem e dar atenção a elas.


Nouwen: Se você realmente quer conhecer a Deus, conheça seu povo. Vá ao barbeiro e fale sobre Deus. Diga ao carpinteiro sobre suas experiências. Dedique tempo para ler sobre a vida dos pais da igreja. Eles sempre o surpreenderão, pois sempre dirão que as preocupações que vocês têm, não são aquelas que você deveria ter. Entre em contato com aquelas mulheres e homens que fizeram coisas loucas, como apaixonar-se por Deus.O que deve acontecer em um retiro espiritual?


Nouwen: Uma palavra: oração. Foster: Penso que o mundo protestante precisa repensar toda a questão dos retiros. Lembro de pregar um sermão sobre a necessidade de “locais para reflexão”, baseado na experiência de Pedro; então eu completei a reflexão dizendo: “Se algum de vocês quer ir a algum retiro espiritual, eu encontrarei um lugar para vocês”.Um indivíduo aceitou a minha oferta e liguei para todos os centros de retiros que eu encontrei na Califórnia. Todos me disseram a mesma coisa: o local acomodava 500 pessoas, mas não acomodava uma pessoa só. Até onde eu consegui descobrir, apenas os centros de retiro católicos aceitavam uma pessoa só. Por que não podemos construir lugares como estes para nossas igrejas?


Nouwen: É uma excelente idéia. Eu conheço casas paroquiais no Canadá que fizeram de seu terceiro andar, um local reservado para retiros. Foster: Nem sempre você precisa ir para longe. Você pode ter retiros enquanto mexe no seu quarto, oração e reflexão. Conheço uma família que tem uma cadeira designada como “a cadeira do silêncio”. Quando alguém senta na cadeira, ele ou ela precisa ficar sozinho.


Nouwen: A disciplina do silêncio tem sido muito importante em meus ensinamentos. No último semestre, ofereci um curso de direção espiritual. Um pré-requisito era que estudantes precisavam passar uma hora em silêncio com um trecho pré-selecionado da Bíblia, durante nossa tarde juntos. Após àquela hora de silêncio, os convidei a dividirem-se em pequenos grupos para compartilhar a experiência. Muitos perceberam pela primeira vez que existe algo diferente de discussão. Eles diziam: “estou impressionado que Deus tinha algo para dizer para mim e isso me assustou quando aconteceu”.Mas algumas vezes nos sentimos inseguros com tudo o que precisamos fazer. Como um pastor desaprende a correr para fazer o que é urgente?


Foster: Fui ensinado no seminário que se eu pregasse sobre o Antigo Testamento, deveria estudar o texto em hebraico. Se eu pregasse sobre o Novo Testamento, eu deveria estudar o texto em grego. Fui ensinado que eu deveria passar tempo durante a semana ensaiando meu sermão. Disseram-me que o aconselhamento pastoral é crucial para meu ministério.Somei o tempo que levo para fazer todas estas coisas e o resultado foi estrondoso. Uma vez que entrei no ministério, percebi rapidamente que estas coisas podem até construir igrejas, mas não necessariamente ajudam as pessoas. Tive que voltar ao princípio e perguntar: “O que devo fazer?”A resposta foi: “Ame a Deus e caminhe com Ele”. Uma vez que o pastor está firmado e centrado nisto, os sentimentos de culpa se vão.


Nouwen: Pode ser que os pastores sejam inseguros, mas isto pode ser apenas uma ferramenta tanto quanto a responsabilidade. Pessoas inseguras precisam de contato social. Muitas pessoas com este tipo de personalidade escolhem o ministério, pois é uma forma de lidar com suas próprias necessidades. Não penso que isto seja ruim. Um dos caminhos mais belos para a formação espiritual é quando sua insegurança o dirige para perto de Deus. A sensibilidade normal pode se tornar uma ferramenta, o torna ciente da sua necessidade de estar com pessoas e permite que você se disponha mais às necessidades deles. De uma forma, você permite que suas fraquezas psicológicas se tornem frágeis para Deus, e você utilize a insegurança das relações humanas para desenvolver uma relação firme com Deus.


Foster: Os discípulos são ótimos exemplos disto. Nouwen: Sua insegurança pode ser neurótica, mas pode levá-lo a uma vida espiritual profunda. Ao invés de dizer ao clero: “vocês são inseguros e por isso se tornaram pastores”, deveríamos dizer, “A insegurança é sua vocação, é um convite para que você viva uma vida espiritual”.Como os pastores podem aceitar sua insegurança desta maneira?


Nouwen: Você precisa de uma pessoa com quem você se sinta livre para ser inseguro. Deixe-me exemplificar. Você está em um quarto enorme com uma corda estirada e pendurada de ponta a ponta. A corda está a apenas 30 cm do carpete. A maioria de nós age como se estivéssemos vendados, tentando andar na corda, com medo de cair. Mas não percebemos que a corda está a apenas 30 cm do chão. O orientador espiritual é alguém que vai empurrá-lo da corda e dizer: “Está vendo? Não tem problema. Deus ainda o ama”. Pegue toda a ansiedade que tem a respeito de ser bem-sucedido ou não, ter dinheiro suficiente ou não, deixe de se equilibrar na corda e simplesmente desça.Foster: Este é um grande benefício de ler sobre os 'santos', os pais da igreja. Eles eram vulneráveis para fracassar, pelos padrões humanos.Falamos muito sobre oração. Como vocês enxergam a oração?


Nouwen: A oração é primeiramente ouvir a Deus. É a abertura. Deus está sempre falando, está sempre fazendo algo. Oração é adentrar nesta atividade. Pense nesta sala. Imagine que você nunca esteve fora dela. Oração é como sair da sala, descobrir o que há lá fora. Oração, em sua forma mais básica, é ter uma atitude e dizer: “Deus, o que você quer me dizer?


Foster: O problema de descrever a oração como falar com Deus é que isto implica que ainda estamos no controle. Mas em ouvir a Deus, nos entregamos. Pessoas estão cansadas de ouvir sobre os “Dez passos que mudarão a sua vida”. A vida espiritual não é algo que somamos a uma vida já demasiadamente ocupada. Estamos falando sobre impregnar, infiltrar e controlar o que já fazemos com uma atitude de serviço a Deus. Para os pastores, isto pode significar oração silenciosa em suas reuniões. Uma das maiores revelações para mim foi experimentar a comunhão com Deus nas reuniões. Aprendi que nem sempre preciso falar e controlar e que posso orar pelas pessoas na sala que estão sofrendo e enfrentando dificuldades. Também acho que é muito importante o que pensamos todas as noites antes de dormir e pela manhã quando acordamos. Tantos de nós permitem que o noticiário da noite determine o que está em nossos pensamentos antes de dormir. O que está envolvido em centralizar seus pensamentos em Deus? Foster: Meus filhos e eu construímos uma tabela de basquete na calçada. Saio sozinho às dez horas da noite e faço arremessos. É um tempo de oração. Eu jogo basquete, convido a Deus para que me ajude a lembrar sobre o meu dia. Existem confissões que precisam ser feitas? Fui gentil com a secretária? Preciso acertar algo com alguém? Pela manhã, começo a orar quando começo a acordar. Não estou totalmente consciente, mas não estou totalmente adormecido. É neste período que já entrego meu dia para Deus.


Nouwen: Pessoas que vivem vidas espirituais tornam-se sensíveis para o que se passa ao seu redor. Percebem o que ocorre em suas casas, tudo é mais simples. Seu espaço físico torna-se mais espaçoso quando sua vida é vivida espiritualmente. A idéia de ir a um retiro para orar é crucial, mas precisamos orar diariamente. Não é apenas importante separar tempo para orar, mas também um local para orar. Tenho um local especial onde passo um tempo orando. A única razão pela qual estou lá é para orar. Após o término deste período, posso dizer: “Senhor, esta é a minha oração, mesmo que minha mente ainda tenha tanta confusão”.E sobre o conteúdo da oração?


Nouwen: Para muitos cristãos, oração é ter pensamentos espirituais. Isso não é oração. Oração é achegar-se à presença de Deus com tudo o que você é. Você pode dizer: “Senhor, eu odeio esta pessoa. Não consigo suportá-la”. A vida de oração de muitas pessoas é seletiva. Geralmente só colocam diante de Deus o que querem que Ele saiba e o que pensam que Ele suporta ouvir. Deus é Deus, Ele agüenta ouvir tudo.


Foster: Há pouco tempo atrás, uma mulher me disse: “Não consigo orar por mais de dois minutos. O que posso fazer?” Quando alguém me diz isto, eu respondo: “Sobre o que você tem pensado e se preocupado nestes dias? Ore por isto”.


Nouwen: Transforme seus pensamentos em oração. Como nos envolvemos com o pensar incessante, então somos chamados à oração incessante. A diferença não é que a oração é pensar sobre outras coisas, mas que a oração é o pensar em diálogo. É um movimento de um monólogo centrado em mim mesmo, para uma conversa com Deus.

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(tradução de Karen Bomilcar)

As casas e as verdades....Ed René Kivitz

Assim como uma casa se faz com tijolos, mas uma pilha de tijolos não é uma casa, também uma verdade cristã se faz com versículos – mas um amontoado de versículos não equivale necessariamente a uma verdade bíblica.

Era uma manhã ensolarada e a caminhada já se estendia. A cidade estava logo ali. Antes da chegada, a fome. E depois da fome, uma figueira. Jesus se aproxima da planta esperando colher algum fruto. Mas encontrou apenas folhas. Não teve dó nem piedade – amaldiçoou a figueira, e deixou seus discípulos assombrados. Depois deu uma bronca em todo mundo e vaticinou: quem tiver fé, ainda que do tamanho de um grão de mostarda, vai mandar esse monte sair do lugar e ele vai obedecer. No meio dessa coisa toda, Jesus ainda encontra tempo para, literalmente, chutar o balde dos comerciantes do templo, que haviam transformado a casa do Pai em covil de ladrões.
O que uma cidade, uma figueira, um monte, um templo e a fé estão fazendo juntos nesta cena? Aliás, observe. Caso não tenha percebido, eles estão juntos. Não são episódios estanques, separados: o da figueira, o do templo e o aforismo sobre a fé. São peças de um quebra-cabeças que, montadas, deixam claro como o sol do meio-dia o que Jesus estava querendo dizer. Já, já, a gente chega lá. Mas quero contar outra história. Certa ocasião, Cristo se deparou com um homem dominado por espíritos malignos. “Legião”, disseram, ao responder qual era seu nome.
Diante do Filho do Deus Altíssimo, os demônios pediram que Jesus os deixasse entrar nos porcos, perto de dois mil. Jesus consentiu. Em seguida, os porcos se lançaram ao lago de Genezaré e se afogaram. O pessoal da região ficou louco da vida com Jesus e pediu que ele fosse embora daquele lugar.Não tenho dúvidas de que você já ouviu e leu centenas de meditações baseadas nestes dois episódios da caminhada de Jesus com seus discípulos. Provavelmente, alguém já disse que seus problemas são como aquele monte citado pelo Mestre, e que podem ser superados pela fé. Não importam quais sejam seus embaraços, seus problemas, suas angústias e as razões do seu sofrimento; basta ter fé. Afinal, a fé remove montanhas, isto é, com fé a gente vence qualquer dificuldade. Também deve ter ouvido a respeito da autoridade de Jesus sobre os espíritos malignos, o que é absolutamente verdadeiro. E não é pouca autoridade, não. O Senhor deu conta de expulsar dois mil demônios de um homem de uma vez só. Eles fizeram fila e saíram um de cada vez. Então, imagine o que Cristo não é capaz de fazer com um demoniozinho tupiniquim! Principalmente, no palco de uma igreja evangélica.
Com base na história do gadareno e sob a intercessão das mãos estendidas dos fiéis, os pastores se enchem de coragem e repetem sua fórmula infalível: “Sai desse corpo que não te pertence”.Será que estes episódios se prestam apenas a ensinar a respeito do poder da fé para vencer dificuldades na vida e acerca da autoridade de Jesus sobre o diabo e seus asseclas? Ou haveria algo mais nas entrelinhas das narrativas? Fico com a segunda alternativa: os Evangelhos – decerto, a Bíblia toda – contêm linguagem cifrada, códigos secretos que comunicam verdades profundas, perfeitamente percebidas pelos circunstantes, porém raramente alcançadas pelos leitores contemporâneos. Mas, e a figueira, a cidade, o templo? O que fazer com essas figuras? Vamos lá.
Primeiro, o caso da figueira. Sabemos que essa árvore é um símbolo que identifica a nação de Israel. Assim também a cidade, o templo, e o monte. A cidade é Jerusalém, onde está o Templo de Salomão, no monte Sião. Jesus faz a limpa, cumprindo a profecia de Malaquias – “Logo virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais” – e a de Zacarias: “E, naquele dia, não haverá mais mercadores na casa do Senhor dos exércitos”.Jesus deixa claro que Israel é uma figueira estéril, sem frutos, o que é demonstrado pela profanação do Templo e deturpação de sua religião. A nação é amaldiçoada; Sião deixará de ser o centro da revelação de Deus e Israel será preterida por um povo com quem Deus celebrará uma nova aliança – em Jesus, e não mais em Moisés: “É evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé”.
A fé que remove montanha não é a fé individual, aquela porção de fé de cada crente, mas coletiva, do povo da nova aliança: “Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes. Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio. Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão”.
O monte removido pela fé não é a dificuldade particular de cada crente, mas Sião, o monte santo, que não se abala – ou melhor, não se abalava, até que Israel rejeitou o Messias, que conforme a Escritura, veio para os seus, mas não foi recebido por eles. Em Cristo, a Igreja – o povo da fé – recebe todos os títulos que pertenciam a Israel: “Geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido”. A fé remove o Monte Sião. Portanto, da próxima vez que alguém lhe disser que a fé remove montanhas, diga que já removeu. Sião não é mais o que era. A figueira secou. E nasceu a Igreja, povo de Deus, povo da fé.A mesma coisa acontece com a história do endemoninhado gadareno. Os espíritos imundos chamam a si mesmos de Legião, numa clara e explícita referência ao poderio militar romano.
Assim como os opressores egípcios se afogaram no Mar Vermelho, quando com mão forte Yahweh libertou Israel pelas mãos de Moisés, também os opressores romanos estavam se afogando no Mar da Galiléia, sob as ordens daquele que ousou pronunciar “ouvistes o que foi dito por Moisés; eu, o Messias, porém, vos digo”.
Da próxima vez que alguém lhe disser que Jesus é maior que os demônios, concorde. Mas acrescente – ele é também maior que Moisés. E maior que o Egito, a Babilônia, a Pérsia. É também maior que Roma. Maior que os espíritos malignos que agem nas entranhas do mundo, que jaz no maligno. E, porque maior que tudo e todos, é Senhor e libertador, aqui e agora, ali e além; Rei de um reino que não terá fim.
Assim como uma casa se faz com tijolos, mas uma pilha de tijolos não é uma casa, também uma verdade cristã se faz com versículos – mas um amontoado de versículos não equivale necessariamente a uma verdade bíblica. Uma casa é resultado de um processo inteligente de ordenação harmoniosa de tijolos, todos agrupados conforme determinado projeto. Assim também, a verdade do Evangelho possui sua lógica. Fora dessa lógica intrínseca, versículos não passam de tijolos.

De joelhos, ninguém tropeça... Ziel Machado


Era sábado, de manhã ainda bem cedo. Eu chegava para um evento de jovens numa igreja na periferia do Rio de Janeiro. Ao entrar, encontrei um pequeno grupo reunido em oração. Para minha surpresa, além das senhoras, havia jovens ali. Um deles, que liderava a reunião, convidou a todos para se ajoelhar e orar, e o fez com a seguinte afirmação: “Quem anda de joelhos não tropeça!” Um grupo de anônimos, reunidos bem cedo em oração, numa igreja de periferia. Isso não se torna notícia, nem engrossa estatísticas do nosso controvertido crescimento evangélico. Gente assim também não é levada em conta na abundante literatura destinada a promover os vários métodos de crescimento de igreja. Afinal, são anônimos! No entanto, é por meio de milhões de anônimos que o Evangelho é proclamado e promove superação de todo tipo de barreiras, permitindo a formação de novas comunidades de fé. Lucas narra, no livro de Atos, a ação de anônimos no processo de avanço da missão cristã.
No relato do surgimento da igreja em Antioquia (Atos 11.19-30), ele descreve como “alguns de Chipre e de Cirene começaram a pregar”. Eles ainda não eram, sequer, chamados de cristãos – mas, motivados pela perseguição após a morte de Estêvão, saíram anunciando o Evangelho. Como resultado, nasceu uma igreja multiétnica. Nada de espetacular é mencionado; o relato apenas menciona alguns evangelistas anônimos, motivados por algo que havia surgido para destruir a fé, mas que terminou por promovê-la. O fato de ter sido uma ação anônima não a fez menor, desprovida de valor.
Lucas fez questão de registrar a obra destes anônimos e ainda relata a atitude de Barnabé ao visitar esta igreja, quando enviado pelos irmãos de Jerusalém. Barnabé não chegou sugerindo aos crentes de Antioquia que era portador do “Modelo de Jerusalém”, a solução para o crescimento da Igreja. O texto nos diz que Barnabé reconheceu que a mão de Deus estava com eles e os animou a prosseguir. Esta é a questão fundamental: antes de comparar Antioquia com Jerusalém (se é que ele o fez), Barnabé testemunhou os sinais da mão de Deus naquela comunidade.
O crescimento numérico da Igreja Evangélica brasileira é um fato. Neste contexto, têm surgido muitos modelos com uma variedade de respostas ao que se supõe serem as perguntas vitais. No entanto, o problema está no fato de que, para muitos, a primeira pergunta tem sido negligenciada: “Quais são os sinais da presença de Deus nesta comunidade?”. Contudo, o ponto de partida tem sido a comparação, e não o reconhecimento da ação de Deus, em cada comunidade local. Os testemunhos de crescimento são inspirativos e devem despertar alegria em nosso coração; mas, quando relatos se transformam em modelos a serem seguidos, o risco se torna iminente.
Fico pensando naquele pastor que, diariamente acompanha os membros de sua comunidade, visita lares e hospitais e, semana após semana, abre a Palavra de Deus e a expõe com a convicção de que o Senhor fala ao povo. Durante anos, ele aprendeu a reconhecer a mão de Deus sobre a igreja que conduz. Imagine como se sente este obreiro ao ser induzido a, de uma hora para outra, transformar o testemunho de determinadas igrejas em modelo para sua comunidade. Agora, não se trata de reconhecer a mão de Deus, mas sim, de comparar dinâmicas organizativas e funcionais.
Não sou contra os livros, encontros e ministérios que promovem determinadas experiências de crescimento, até o momento em que transformam relatos em modelos. A questão fundamental não é a comparação de uma igreja a outra, mas sim o reconhecimento da ação divina em cada comunidade que se reúne em nome do Senhor. Se este crescimento evangélico é real, para além da dimensão numérica, então o responsável por ele é o próprio Deus. Neste caso, vale a pena seguir a orientação daquele crente anônimo: “De joelhos, irmãos; assim, ninguém tropeça.”

Por que não se cala? A crítica como uma forma construtiva de edificar a Igreja...Ziel Machado

A pergunta do rei Juan Carlos de Espanha ao presidente venezuelano Hugo Chávez, na Cúpula Ibero-Americana realizada no Chile, em novembro passado, já foi imortalizada no folclore político. O constrangimento daquela situação chamou minha atenção para a necessidade de se qualificar a crítica quanto a seu conteúdo, sua forma, motivação e momento.
Quatro elementos que, quando não são tomados em conta, podem desqualificar até mesmo uma crítica justa. Fiquei pensando na forma como hoje se critica este segmento da sociedade denominado Igreja Evangélica.
Em muitos casos, as críticas públicas que se fazem a ela estão impregnadas de uma visão ingênua sobre a ambigüidade dos projetos e realizações humanas, como se a tarefa de fazer a distinção entre o trigo e o joio fosse algo fácil. Outras vezes, o esforço crítico está impregnado de ressentimento, sem falar em personalidades narcisistas, suportadas por grupos de narcisistas complementares que encarnam o espírito cruzadista moderno.A alternativa à crítica inadequada não é a ausência de contestação, mas sim, sua qualificação em conteúdo, momento, motivação e forma. O Senhor Jesus nos deu o exemplo.
A forma como se dirige às sete igrejas da Ásia, no Apocalipse, oferece-nos uma excelente perspectiva de como reconhecer e afirmar o que é bom; ao mesmo tempo, indica o que deve ser corrigido. É bom lembrar que a descrição da situação de cada uma daquelas comunidades cristãs, e a exposição de seus respectivos problemas, não impediram o Senhor de chamá-las de “minhas igrejas”. A literatura apocalíptica tem por finalidade colocar o momento presente à luz da perspectiva das realidades, ainda não vistas, do futuro, assim como de colocar o momento presente à luz das realidades, não vistas, do presente. Portanto, aquele que anda no meio de sua Igreja e que conhece suas obras primeiro se apresenta de forma distinta a cada congregação em particular.
Em seguida, revela seu conhecimento de cada situação – elogia o que deve ser elogiado e critica o que deve ser criticado; chama ao arrependimento e alerta para as conseqüências dos erros; adverte cada uma e termina com promessas. Fico me perguntando: o que nos quer comunicar o Senhor por meio desta estrutura?Aproximadamente 60 anos após a morte e ressureição de Jesus, sua Igreja enfrentou uma crise cristológica.
As comunidades descritas no Apocalipse esqueceram aspectos importantes de seu Senhor e se tornaram parecidas com o que se via no seu entorno social. Por esta razão, o Senhor decide enviar uma carta aos seus servos, e o faz por meio de seu servo João. Este, exilado na Ilha de Patmos, recebe a revelação – e a partir dali, o Filho de Deus expressa suas impressões sobre diversas congregações, com o conhecimento de quem “conhece suas obras”. Foram críticas mais que legítimas, portanto. Em que contexto nascem as nossas críticas?
Será que as mesmas expressam toda a reverência devida àquele que “anda no meio da igreja e conhece as suas obras’? Será que nossa crítica ao Corpo de Cristo hoje pode ser vista como expressão de adoração ao Senhor da Igreja? Será que ela nasce de uma íntima relação com o Senhor ou apenas dos nossos limitados pontos de vista? Como poderíamos depurar nossa crítica através do conhecimento que só aquele que anda no meio de sua Igreja dispõe?
Talvez, enquanto não nos seja possível responder de forma adequada a tais indagações diante do Senhor que também conhece nossas obras, o melhor seja considerar a pergunta do rei de Espanha: “Por que não se cala?”

O que aconteceu naquele sábado santo? Eugene Peterson......


Deus morreu em carne e o inferno estremeceu de medo.

Pena-bonita colocou duas moedas de cinco centavos em cima do balcão para suas compras destinadas ao Sábado Santo (o sábado da Semana Santa): presunto defumado, dois por cinco centavos. Na hierarquia descendente de alimentos para o Sábado Santo, presunto defumado se encontrava em último. No açougue do meu pai, os grandes presuntos defumados eram pendurados no centro da loja. Painéis coloridos eram trazidos pelos vendedores das companhias de carne como Armour, Hormel e Silverbow; mostravam variados temas: um pai cortando um presunto sentado à mesa no domingo de Páscoa, com sua esposa satisfeita e seus filhos ansiosos. Ao lado destes painéis, era possível encontrar pilhas dos presuntos menores e mais baratos, destinados a piqueniques (apesar de que presunto de piquenique não é exatamente presunto, mas o ombro do porco), os quais não tinham nem fotografias na embalagem, e muito menos as marcas.
No Sábado Santo os clientes lotavam a loja, em resposta aos anúncios de vendas pintados no vidro da loja que dava para a Rua Central. Os clientes se dividiam entre a classe alta e a baixa, de acordo com o poder aquisitivo: os ricos compravam os presuntos defumados e com mel, enquanto os não tão ricos compravam os presuntos de piquenique sem nome. Pena-bonita era a única pessoa que eu me lembro que comprava presunto engordurado por fora, encorpado por dentro, mas defumado e, portanto, com um aroma de festa - no Sábado Santo. Ela era a única índia que eu conhecia por nome durante minha infância e juventude, apesar de eu ter crescido em um país de índios. Todos os sábados ela vinha à loja para fazer uma pequena compra: pés de porco, salsicha, queijo e fígado. Ela estava sempre sozinha. Usava sapatos e estava enrolada em um cobertor, mesmo em época de calor. As moedas que ela utilizava para as compras ficavam em uma bolsinha de couro pendurada em seu pescoço. Sua face era da cor e da textura dos sapatos mocassim em seus pés. Índio era uma palavra quase mitológica para mim, cheia de nobreza e beleza, repleta de histórias e cerimônias sagradas.
De alguma forma nunca me ocorreu que aquela índia vinha à nossa loja todos os sábados e comprava carnes simples que não condiziam com a sua nobreza. Enquanto ela fazia as compras conosco e com os outros vendedores da cidade seu marido, junto com sete ou oito índios corajosos, ficavam sentados em caixas de maçã atrás do Bar Pastime, bebendo e passando de mão em mão uma jarra de vinho Thunderbird. Diversas jarras, aliás. Enquanto eu fazia entregas de carnes e hambúrgueres aos restaurantes da rua central, eu passava por aquele local diversas vezes, todo o sábado, e observava as jarras vazias se acumulando. Tarde da noite, Bennie Odegaard, filho de um dos donos de bar e um pouco mais velho que eu, colocava os corajosos índios no caminhão de seu pai e os levava para o sul da cidade onde ficava a reserva indígena, próximo ao rio Stillwater e os deixava lá. Não sei como Pena-bonita retornava para aquela reserva indígena. Acho que ela caminhava, carregando suas pequenas compras. No Sábado Santo ela carregava quatro presuntos defumados.
Eu nunca havia ouvido sobre um sábado que era designado como Santo. Era simplesmente sábado. Se, uma vez por ano, alguma precisão era necessária, era o “sábado antes da Páscoa”. Era um dos dias de trabalho mais pesados do ano. Logo cedo, eu carregava os cheirosos presuntos que vinham da Armour, em Spokane, da Hormel, em Missoula, da Silverbow, em Butte, e os organizava simetricamente em pirâmides. Já haviam sido anunciados durante toda a semana. Sábado era o clímax comercial da semana. A santidade era deixada de lado até o domingo. Sábado era dia de trabalho duro e de ganhar dinheiro. Era um dia onde a evidência do trabalho duro e sua conseqüência - o dinheiro - se tornava publicamente aparente. A evidência foi especialmente clara naquele sábado em particular, quando vendemos centenas de presuntos para cristãos e quatro presuntos para uma índia e um carro cheio de índios bêbados.O sábado entre a sexta-feira santa e a Páscoa era um dos dias de trabalho mais difíceis, ninguém pensava em santidade.
Cresci em uma casa religiosa que acreditava com devoção nos benefícios salvadores da morte de Jesus e na vida gloriosa da ressurreição. Mas entre esses dois eventos da fé, trabalhávamos durante um longo e lucrativo dia. De alguma forma, eu estaria muito surpreso e incrédulo, se soubesse que, na mesma cidade onde eu trabalhava duramente, em todos os sábados que não eram santos, existissem pessoas além dos índios que não trabalhavam de forma nenhuma, mas lembravam do desespero de um mundo desapontado em todas as suas esperanças, penetrando em um mundo vazio da morte através do deliberado esvaziamento da ilusão própria, indulgência e importância. Em vigília pela Páscoa. Assistindo o nascer do dia.Algo estranho acontece na terra hoje, um grande silêncio e paralisação.
Toda a terra está em silêncio, pois o Rei está adormecido. A terra estremeceu e está paralisada porque Deus adormeceu em carne e levantou todos os que dormem, desde a fundação do mundo. Deus morreu em carne e o inferno estremeceu de medo. Ele saiu em busca de nossos primeiros pais, como em busca de uma ovelha perdida. Desejando muito visitar a todos que vivem na escuridão e na sombra da morte, Ele foi libertar da tristeza os cativos Adão e Eva, Ele que é tanto Deus como filho de Eva. Deus se aproximou deles carregando uma cruz, a arma que lhe deu a vitória. Ao enxergar Adão, o primeiro homem que Ele criou, aterrorizado gritou para todos: “Que Deus esteja com todos vocês”. Cristo lhe respondeu: “E com o seu espírito”. Ele o tomou pela mão e o levantou dizendo: “Acorde, você que dorme e levante-se dos mortos, e Cristo lhe dará a luz”.
A leitura para o Sábado Santo é a liturgia das horas. Interpretei o significado do mundo e das pessoas ao meu redor em termos de trabalhar nos sábados, mais do que qualquer coisa que eu havia dito ou cantado na sexta e no domingo. O que me diziam naqueles anos (e não tenho razão para duvidar que ouvi a verdade), o que eu absorvi em meus ossos foi um ritmo litúrgico em que o clímax era atingido em um dia normal e humano de trabalho, cujos resultados eram aproveitados na Páscoa.Aquelas suposições promoviam a interpretação social do mundo à minha volta: sábado era um dia para o trabalho duro e para mostrar os resultados, ou seja, o dinheiro. Se alguém aparentasse não trabalhar ou gastar no sábado, havia algo errado, catastroficamente errado. Os índios, demonstrando ressaca da festa de Páscoa e seus presuntos, eram a mais proeminente exibição. Era uma visão da vida formatada pelo “Evangelho de acordo com os Estados Unidos da América”. As recompensas eram óbvias e eu gostava delas. Ainda gosto. Trabalho duro é recompensado.
Aprendi muitas coisas naqueles anos, coisas que nunca esquecerei. Ao mesmo tempo, havia uma grande omissão que colocava perigosamente em risco todas as outras verdades: a omissão da parte santa. A recusa de permanecer em silêncio. Evitar obsessivamente o vazio.
A negação de qualquer experiência e qualquer pessoa que pudesse sugerir algum tipo de miséria. Era muito mais do que a ignorância anual no Sábado Santo; era algo alimentado religiosamente, arrogância semanal. A Sexta-feira Santa não era apenas a ponte entre a crucificação e a ressurreição da Páscoa através deste dia cheio de energia, lucros e recompensas, mas todas as verdades do Evangelho eram colocadas da mesma forma como introduções ou conclusões para a ação humana que demonstrava nosso poder e nossa virtude todas as semanas do ano. Deus era o pano de fundo para os nossos compromissos e ocupações. Todas as verdades do Evangelho eram mantidas intactas e toda a energia humana era admirável, mas os ritmos estavam errados, as proporções tremendamente distorcidas. Desolação, e com a companhia do desolado, tanto os semitas do primeiro século como os índios do século vinte, varriam tudo de suas consciências.Mas chegou um ponto em que eu estava convencido de que era criticamente importante que prestasse mais atenção no que Deus faz do que naquilo que eu faço. Encontrar diariamente, semanalmente, anualmente, ritmos que trouxessem este alerta aos meus ossos.
Sábado Santo, para começar. E então, tempo para visitar pessoas em desespero, aprender seus nomes e aguardar pela ressurreição. Está agora mergulhada em minhas memórias esta grande ironia: aqueles sete ou oito índios bêbados, com as suas Thunderbirds vazias no beco atrás do Bar Pastime, nos sábados à tarde, enquanto os cristãos escandinavos trabalhavam diligentemente até tarde da noite, desatentos à santidade do dia. Os índios estavam em desespero - desespero religioso, algo muito parecido com o desespero do Sábado Santo narrado nos Evangelhos.
Seu modo de vida havia chegado a nada; o único búfalo que lhes restara era aquele desenhado nas moedas de cinco centavos, duas destas moedas que haviam sido pagas pela índia para comprar os presuntos.
O território sagrado de suas vidas estava perdido e, miseráveis como estavam, anestesiavam seu desespero com a bebida, enterrando suas visões mortas e seus sonhos no beco atrás do Bar Pastime, ignorantes da existência de Deus, que trabalhava em seu vazio.

A maldição da culpa - J. Piper

A culpa não deve nos deixar inertes e abalados diante de um pecado confesso e já perdoado. Em 26 anos de pastorado, o mais perto que eu havia chegado de ser demitido da Igreja Batista Bethlehem foi em meados da década de 1980, depois de escrever um artigo intitulado Missões e masturbação para nosso boletim. 
Eu o escrevi ao voltar de uma conferência sobre missões presidida por George Verwer, presidente da Operação Mobilização. No evento ele disse como seu coração pesava pelo imenso número de jovens que sonhavam em obedecer completamente a Jesus, mas que acabavam se perdendo na inutilidade da prosperidade americana.
A sensação constante de culpa e indignidade por causa de erros sexuais dava lugar, pouco a pouco, à falta de poder espiritual e ao beco sem saída da segurança e conforto da classe média.
Em outras palavras, o que George Verwer considerava trágico – e eu também considero – é que tantos jovens abandonem a causa da missão de Cristo porque ninguém lhes ensinou como lidar com a culpa que se segue ao pecado sexual. O problema vai além de não cair; a questão é como lidar com a queda para que ela não leve toda uma vida para o desperdício da mediocridade.
A grande tragédia não são práticas como a masturbação ou a fornicação, e nem a pornografia. A tragédia é que Satanás usa a culpa decorrente desses pecados para extirpar todo sonho radical que a pessoa teve ou poderia vir a ter. 
Em vez disso, o diabo oferece uma vida feliz, certa e segura, com prazeres superficiais, até que a pessoa morra em sua cadeira de balanço, em um chalé à beira de um lago.Hoje de manhã mesmo, Satanás pegou seu encontro das duas da manhã – seja na televisão ou na cama – e lhe disse: “Viu? Você é um derrotado. O melhor é nem adorar a Deus. 
Você jamais conseguirá fazer um compromisso sério para entregar sua vida a Jesus Cristo! É melhor arrumar um bom emprego, comprar uma televisão de tela plana bem grande e assistir o máximo de filmes pornográficos que agüentar”. Portanto, é preciso tirar essa arma da mão dele. Sim, claro que quero que você tenha a coragem maravilhosa de parar de percorrer os canais de televisão. Porém, mais cedo ou mais tarde, seja nesse pecado ou em outro, você vai cair.
Quero ajudá-lo a lidar com a culpa e o fracasso, para que Satanás não os use para produzir mais uma vida desperdiçada.Cristo realizou uma obra na história, antes de existirmos, que conquistou e garantiu nosso resgate e a transformação de todos que confiarem nele. A característica distintiva e crucial da salvação cristã é que seu autor, Jesus, a realizou por completo fora de nós, sem nossa ajuda. 
Quando colocamos nele a fé, nada acrescentamos à suficiência do que fez ao cobrir nossos pecados e alcançar a justiça que é considerada nossa. Os versículos bíblicos que apontam isso com mais clareza estão na epístola de Paulo aos Colossenses 2.13-14: “Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões e cancelou o escrito de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz”.
É preciso pensar bem nisso para entender plenamente a mais gloriosa de todas as verdades: Deus pegou o registro de todos os seus pecados – todos os erros de natureza sexual – que deixavam você exposto à ira. Em vez de esfregar o registro em seu rosto e usá-lo como prova para mandar você para o inferno, Deus o colocou na mão de Seu filho e pregou na Cruz. E quem são aqueles cujos pecados foram punidos na cruz?
Todos que desistem de tentar salvar a si mesmos e confiam apenas em Cristo. E quem assumiu essa punição? Jesus. Essa substituição foi a chave para a nossa salvação.Alguma vez você já parou para pensar no que significa Colossenses 2.15? Logo depois de afirmar que Deus pregou na cruz o registro de nossa dívida, Paulo escreve que o Senhor, “tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz”. Ele se refere ao diabo e seus exércitos de demônios. Mas como são desarmados? Como são derrotados? 
Eles possuem muitas armas, mas perdem a única que pode nos condenar – a arma do pecado não perdoado. Deus pregou nossas culpas na cruz. Logo, houve punição por elas – então, seus efeitos acabaram! 
O problema é que muitos percebem tão pouco da beleza de Cristo na salvação que o Evangelho lhes parece apenas uma licença para pecar. Se tudo que você enxerga na cruz de Jesus é um salvo-conduto para continuar pecando, então você não possui a fé que salva. Precisa se prostrar e implorar a Deus para abrir seus olhos para ver a atraente glória de Jesus Cristo.
Culpa corajosa – A fé que salva recebe Jesus como Salvador e Senhor e faz dele o maior tesouro da vida. Essa fé lutará contra qualquer coisa que se coloque entre o indivíduo salvo e Cristo. Sua marca característica não é a perfeição, nem a ausência de pecados. Quem enxerga na cruz uma licença para continuar pecando não possui a fé que salva. A marca da fé é a luta contra o pecado. A justificação se relaciona estreitamente com a obra de Deus pregando nossos pecados na cruz. Justificação é o ato pelo qual o Senhor nos declara não apenas perdoados por causa da obra de Cristo, mas também justos mediante ela. Cristo levou nosso castigo e realiza nossa retidão. 
Quando o recebemos como Salvador e Senhor, todo o castigo que ele sofreu, e toda sua retidão, são computados como nossos. E essa justificação vence o pecado.Possuímos uma arma poderosa para combater o diabo quando sabemos que o castigo por nossas transgressões foi integralmente cumprido em Cristo. Devemos nos apegar com força a essa verdade, usando-a quando o inimigo nos acusar pelas nossas faltas.
O texto de Miquéias 7.8-9 apresenta o que devemos lhe dizer quando ele zombar de nossa aparente derrota: “Não te alegres a meu respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei (...) Sofrerei a ira do Senhor, porque pequei contra ele, até que julgue a minha causa e execute o meu direito”. É uma espécie de “culpa corajosa” – o crente admite que errou e que Deus está tratando seriamente com ele. Mas, mesmo em disciplina, não se afasta da bendita verdade de que tem o Senhor ao seu lado! 
Há vitória na manhã seguinte ao fracasso! Precisamos aprender a responder ao diabo ou a qualquer um que nos diga que o Senhor não poderá nos usar porque pecamos. “Ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei”, frisou o profeta. “Embora eu esteja morando nas trevas, o Senhor será a minha luz.” Sim, podemos estar nas trevas da iniqüidade; podemos sentir culpa, porque somos, realmente, culpados pelo nosso pecado. Mas isso não é toda a verdade sobre o nosso Deus.
O mesmo Deus que faz nossa escuridão é a luz que nos apóia em meio às trevas. O Senhor não nos abandonará; antes, defenderá a nossa causa. Quando aprendermos a lidar com a culpa oriunda de nossos erros com esse tipo de ousadia em quebrantamento, fundamentados na justificação pela fé e na expiação substitutiva que Cristo promoveu por nós, seremos não apenas mais resistentes ao diabo como cometeremos menos falhas contra o Senhor. E, acima de tudo, Satanás não será capaz de destruir nosso sonho de viver uma vida em obediência radical a Jesus e de serviço à sua obra.

O silêncio do mundo e o nosso barulho.....


“ Os que amam o ruído que fazem são impacientes com o resto. Desafiam constantemente o silêncio das florestas, das montanhas e do mar. Passeiam com suas máquinas pela floresta silenciosa, em todas as direções, cheios de medo de que um mundo calmo os acuse de vazios. A pressa da sua velocidade, a pretexto de um fim, simula ignorar a tranqüilidade da natureza. O avião ruidoso, por sua trajetória, por seu estrondo, por sua força aparente, por um momento parece negar a realidade das nuvens e do céu. Vai-se o avião, fica o silêncio do céu. Afasta-se ele, a tranqüilidade das nuvens permanece. O silêncio do mundo é que é real. O nosso barulho, os nossos negócios, os nosso planos e todas as nossas fátuas explicações sobre o nosso barulho, negócios e planos, tudo isso é ilusão".

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Thomas Merton, Homem algum é uma ilha, Verus Editora, Campinas, 2003. p. 216.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

ESTABILIDADE EMOCIONAL.....


- Texto para reflexão: “Por isso o meu coração se alegra e no íntimo exulto” (Salmo 16:9).

Recentemente tive a oportunidade de conhecer um dos lugares de beleza natural mais intensa que jamais pude ver. Não é à toa que essa maravilha natural concorre a uma das sete maravilhas naturais do planeta.
Trata-se da região chamada de Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, localizado a cerca de 270 km da capital do Estado do Maranhão (São Luiz). Com uma área total de 155 mil hectares e um perímetro de 270 km, é um parque rico em dunas, rios, lagos e manguezais.
Para conhecer uma das lagoas mais famosas do complexo (Lagoa Bonita), fizemos um percurso de cerca de 45 minutos em um jipe Bandeirantes 4x4, sempre em marcha reduzida, a fim de vencer os caminhos demarcados em areia com 20 a 30cms de altura, entre uma vegetação típica de manguezais, transpondo alguns riachos.
O cenário ao final do percurso foi algo deslumbrante e indescritível. Por mais que tentássemos registrar aquelas imagens, comentei com um amigo como fomos agraciados pelo criador com um conjunto tão fantástico de visão e memória para aquele registro que estava diante de nós.
Perguntando a um caboclo da região, ficamos sabendo que aquelas lagoas que se formam em grande número (algumas maiores, outras menores) são originadas pelas chuvas que caem no inverno, sendo que algumas delas resistem ao rigor do verão maranhense, suportando temperaturas acima dos 38º C. São águas profundas que resistem ao calor e aos ventos que criam desenhos e movimentos naquelas dunas de areia extremamente brancas.
Depois de alguns minutos de íngremes subidas nas dunas de areia fofa e quente, pudemos desfrutar do prazer de um banho em águas cristalinas e frescas. Águas profundas que resistem às altas temperaturas e a constância dos ventos.
Tentei imaginar e traduzir aquele cenário para o contexto da vida humana. O que representaria a beleza daquelas águas profundas e resistentes ao vento e a alta temperatura?
Creio que tem tudo a ver com ESTABILIDADE EMOCIONAL. Algo que todos desejamos, mas que se torna tão difícil ante a tantas demandas, pressões, dificuldades, problemas e situações que vivenciamos em nosso dia a dia.
Gostaria de compartilhar duas observações que poderíamos aferir a partir da experiência do viver diário:

I – A ESTABILIDADE EMOCIONAL ACONTECE ALÉM DA SUPERFICIALIDADE APARENTE.
A genuína estabilidade emocional não depende necessariamente de alguém ao nosso redor, nem de circunstâncias favoráveis.
É aquele estado de espírito que elimina o entra e sai da tristeza e da alegria, do temor e da coragem, da depressão e da euforia, da dúvida e da certeza.
Ela diminui as desgastantes variações e alternâncias de ânimo. Ela suporta imprevistos, a dor, o sofrimento, o estresse, e a distância. Ela se dá a despeito de tudo e de todos. De outra forma não poderia ser chamada estabilidade emocional.
Ela experimenta a alegria de “ser” antes de qualquer alegria do “ter”. Embora não despreze essa última, vê na primeira a força que o ensina a viver contente em toda e qualquer situação (Paulo aos Filipenses 4:12).

II – A ESTABILIDADE EMOCIONAL É UMA CONQUISTA POTENCIALIZADA PELA FÉ.
Quando você vive tempos dessa estabilidade, você sabe que se trata de uma conquista, de um patrimônio sem medida.
Trata-se de uma alegria de águas profundas, que resistem aos dias difíceis e às circunstancias adversas.
Além disso, é preservada na parte mais íntima do ser humano – a sua alma. Por isso, torna-se uma alegria, digamos, espiritual. Uma alegria interior e não aparente, facial.
É uma alegria teimosa, duradoura, resistente, que nunca vai embora, que nada e ninguém pode arrancar, que ladrão algum pode roubar, com disse Jesus: “...o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar”(João 16:22).
O salmista Davi diz-nos que sua experiência em sentir essa estabilidade emocional é alcançada dia após dia, momento após momento, e porque tinha o Senhor Deus à sua frente... “por isso o meu coração se alegra e no íntimo exulto” (Salmo 16:9).
Assim sendo, a experiência de fé potencializa nossa estabilidade emocional, tanto mais nos tornamos conscientes de nossa fragilidade e vulnerabilidade, e da presença, do interesse, do cuidado e do prazer de Deus em nos abençoar e mostrar-se a nós.
Ele tem o poder de gerar no cerne do ser humano um prazer que flui continuamente, uma satisfação plena, um êxtase emocional, que vem resolver nossa angústia existencial, transformar nossas dificuldades em oportunidades, tornar nossa alma estável e em contínua alegria.

Concluindo,
Certamente não é uma tarefa fácil experimentar e vivenciar uma estabilidade emocional, principalmente em tempos difíceis.
Mas, nem por isso devemos viver uma alegria tão pobre e superficial que, ao primeiro susto, bate as asas de nós.
A estabilidade emocional, como as águas dos Lençóis Maranhenses, precisam vir do mais profundo do nosso ser. Tem pouco a ver com circunstancias e momentos, e muito a ver com conteúdo e valores.
Que Deus o abençoe na construção dessa realidade em sua vida.

Em Cristo,

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Hilder C Stutz - pastor da IP Alphaville.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Lançamento da coleção de livros.....

"Dores, lágrimas e alegrias nos Salmos"
Reflexões no Livro de Salmos - Volumes I, II e III (Salmos 1-150)
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Quero convidá-los juntamente com suas famílias para o lançamento da coleção de Salmos que escrevi.
Será na IP Pirituba no dia 30 de agosto de 2008.
Neste sábado às 19:00 horas teremos a pregação pelo Pr. Glênio Fonseca. Ele é pastor da Primeira Igreja Batista em Londrina, no Paraná há mais de 30 anos.Não deixem de participar deste tempo precioso e agendem esta data agora.
Um abraço e até lá se o Pai permitir...
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IGREJA PRESBITERIANA DE PIRITUBA
R. Joaquim de Oliveira Freitas, 2466

sábado, 26 de julho de 2008

Fotos do Encontro da família na IPP dia 24.07.2008......































XVIII Conferência Missionária da Igreja Presbiteriana de Pirituba


Tema: "A surpreendente graça do Evangelho na vida das pessoas"


Dia 03/08: Culto de da manhã - 9:00: Pr. Aroldo Ribas. É pastor na IPP.
Dia 03.08: Culto de celebração da Ceia – noite e dia dos presbíteros - 18:30: Pr. Marcelo Coelho. O Pr. Marcelo Coelho é pastor da Igreja Presbiteriana da Esperança e secretártio executivo do PREP.

Dia 10.08: Culto de da manhã - 9:00: Dia dos pais e Aniversário da IPB: Sérgio Moreira. É membro da IPP e psicólogo.
Dia 10.08: Culto de celebração - Pr. Albert Rodrigues. Ele é pastor da Igreja Presbiteriana de Vila Bonilha - PREP.

Dia 16.08: Conferência Missionária – Pr. Ariovaldo Ramos. Ele é filósofo e teólogo, além de diretor acadêmico da Faculdade Latino-americana de Teologia Integral, missionário da Sepal e presidente da Visão Mundial. É membro da equipe editorial da Edições Vida Nova.

Dia 17.08: Conferência Missionária – 9:00: Miss. Beto e Ciça (Missionários em Guiné Bissau).
Dia 17.08: Conferência Missionária – culto missionário à noite18:30 - Pr. Alcindo Almeida. É pastor na IPP.
Participação do Pr. Gerson Borges com canções!

Dia 24.08: Culto de da manhã: 9:00: Pr. Raimundo Montenegro.
Dia 24.08: Culto de celebração à noite: 18:30: Pr. Raimundo Montenegro.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O que temos hj na IPP....!
Encontros da família na IPP - Julho de 2008

Vocês não podem perder estes encontros preciosos. Receberemos homens de Deus que compartilharão sobre o tema: Resgate da comunhão na família cristã.
A agenda está assim:

Dia 25.07: Encontro da família – Pr. George Canelhas – IP Lapa - 20:00 horas;

Dia 26.07: Encontro da família – Pr. Nelson Taibo - IP Diadema 20:00 horas;
Dia 27.07: Culto da manhã: Encontro da família - Pr. Nelson Taibo – IP Diadema - 9:00 horas;

Dia 27.07: Culto da noite: Encontro da família - Pr. Noé Dias – IP Ferraz -18:30.
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IGREJA PRESBITERIANA DE PIRITUBA
R. Joaquim de Oliveira Freitas, 2466

Cura para a surdez espiritual - Philip Yancey....


Com toda certeza, sabemos o que é relevante. O que aconteceria se pensássemos um pouco no que é irrelevante?

Houve um tempo em que eu considerava os eremitas reclusos intratáveis, caracterizados principalmente pela obsessão com eles mesmos e pela falta de traquejo social – pessoas parecidas com o Unabomber. Thomas Merton corrigiu meu erro. “Para ser loucos, precisamos de outras pessoas”, explicou ele. “Quando ficamos sozinhos, logo nos cansamos de nossa loucura. Ela é exaustiva”.Um livro recente de Peter France, Hermits (Eremitas), ajudou a completar o quadro. France desistiu de uma carreira bem sucedida na BBC para se dedicar a uma vida de contemplação em uma ilha grega. Não fez isso como ato de sacrifício, mas sim para buscar a sabedoria que apenas os que vivem em solitude encontram. Viver longe da pressão da opinião popular “confere percepções que não estão disponíveis na sociedade”, concluiu ele.Santo Antão do Egito, o famoso Pai do Deserto, escolheu a vida de eremita para um contraste deliberado com sua vida elitizada. Depois de 20 anos isolado, sem ver um rosto humano sequer, ressurgiu saudável, equilibrado e cheio de conselhos sábios. Daí em diante, passou a alternar períodos de isolamento com visitas pastorais. France compara esse padrão ao dos cientistas que trabalham sozinhos na busca de cura para doenças fatais.Claro que não se pode ler sobre eremitas sem encontrar estranheza. Certo monge desejava uma bela mulher. Ela morreu e ele foi até o túmulo, tirou-lhe a túnica e secou com ela os fluidos do corpo da mulher. Com o mau cheiro perto dele, em sua cela, ele dizia a si mesmo: “É isso que você desejava – aproveite bem”.Há monges que competem em um tipo de Olimpíada asceta, observando quanto tempo conseguem ficar sem alimento, água ou sono. Eles também possuem um método em sua loucura: as privações causam tanto sofrimento que não deixam espaço para pensamentos carnais.France narra outras histórias que lançam uma luz diferente sobre esses eremitas. Um irmão se gabava de sua disciplina alimentar. O orientador espiritual respondeu: “Não me importa, filho, se você passou 30 anos sem comer carne. Mas quero saber a verdade: quantos dias você passou sem falar mal de seu irmão? Sem julgar o próximo? Sem permitir que seus lábios pronunciassem palavras vãs?”.A sede de isolamento parece crescer toda vez que a sociedade entra em turbilhão. Os judeus essênios se retiraram para o deserto nos dias de Jesus; Buda afastou-se de todos para se purificar de ilusões sociais; Gandhi mantinha silêncio total às segundas-feiras, prática que não interrompeu nem para reunir-se com o rei da Inglaterra.A solitude arranca todas as máscaras e disfarces e quebra dependências desnecessárias aos bens materiais. Henry Thoreau demonstrou uma mistura peculiar de ascetismo, amor à natureza e autoconfiança. Um dos amigos dele comentou que Thoreau aproveitava mais 10 minutos passados com um rouxinol do que a maioria dos homens desfrutaria em uma noite com Cleópatra. Thoreau insistia: “Nunca encontrei companheiro tão agradável quanto a solitude”.No fim do século 18 e início do 19, os ingleses da baixa nobreza contratavam “eremitas de ornamentação”. Reconhecendo o valor da solitude, mas sem disposição para suportar os rigores que ela impõe, os ricos abrigavam esses substitutos em pequenas habitações nos jardins luxuosos. Se você não pode se dedicar a uma vida de simplicidade e oração, por que não pagar alguém para fazer isso em seu lugar?Thomas Merton foi o melhor apologista da vida de solitude em nosso século. Considerava a vida em sociedade um verdadeiro sacrifício e solicitava constantemente o privilégio da solitude, que só lhe foi concedido após 24 anos. Merton ansiava por se unir aos “homens nesta terra miserável, tumultuada e cruel, homens que saboreavam a alegria maravilhosa do silêncio e da solitude, que habitavam em celas nas montanhas esquecidas, em monastérios isolados, onde notícias, desejos, apetites e conflitos do mundo não os alcançavam”. Ainda assim, insistia que “a única justificativa para uma vida de solitude deliberada é a convicção de que ela ajudará a amar não apenas a Deus, mas também o semelhante”.Merton provou que a vida de solitude não leva, necessariamente, ao isolamento ou à estranheza. Nosso século não conheceu observador da política, da cultura e da religião mais preciso do que esse monge que raramente falava e não deixava quase nunca o monastério.Fico surpreso por a Igreja não ter reagido ao tumulto do século que termina com um movimento rumo à solitude. Elias, Moisés e Jacó encontraram-se com Deus quando estavam sozinhos. O apóstolo Paulo, João Batista e o próprio Jesus saíram para o deserto em busca de alimento espiritual.É fato certo que dominamos a relevância. As páginas de organizações religiosas na internet são um primor técnico. Novos grupos de música cristã brotam aos montes, em resposta à menor alteração cultural. O que aconteceria se buscássemos um pouco de irrelevância? O que aconteceria se todos os cristãos fizessem uma caminhada de duas horas pela natureza todas as semanas, sem falar? Ou se, como Gandhi, observássemos um dia de silêncio? Ele escolheu as segundas-feiras. O que aconteceria se ficássemos em silêncio todos os domingos, depois da Escola Dominical? Sendo ainda mais radical, o que aconteceria se silenciássemos todos os eventos esportivos da televisão e do rádio nos domingos?É melhor que eu pare por aqui. Como os eremitas nos mostram, essas disciplinas espirituais podem sair de nosso controle.

O valor do silêncio - Eduardo Pedrosa....

A quietude da alma é um elemento curador da ansiedade. Ela nos acalma até que a salvação se faça presente em nossa vida.
Como qualquer outro tempo da história, o nosso é uma realidade complexa, com muitas variáveis e características. E duas delas saltam aos olhos por expressarem significativamente a lógica de fundo sob a qual nossa vida tem acontecido. A primeira pode ser chamada de culto à eficiência, ou a obsessão por resultados instantâneos. Para algo ser capaz de captar nossa atenção, despertar nosso interesse e ganhar espaço em nossa agenda, é necessário apresentar resultados concretos e rápidos – ou seja, deve provar sua eficiência. Quaisquer ações, exercícios, atitudes, processos ou pessoas incapazes de produzir resultados a curto prazo são descartados. A segunda marca destes dias que vivemos apresenta-se como um círculo vicioso de inquietação. Radicalmente diferente de tempos outros, hoje nosso cotidiano está repleto de estímulos externos. Estamos numa sociedade over, onde tudo é encontrado às toneladas: informação, alimentos, cultura, arte, religião... Esta enormidade de opções nos faz viver inconscientemente uma angústia provocada pelo excesso. Alia-se a isto o fato de habitarmos cidades extremamente barulhentas. Sem que percebamos, nossos ouvidos captam inúmeros sons advindos dos mais variados objetos, pessoas e situações que compõem a complexa e incrivelmente barulhenta teia da vida urbana pós-moderna.
Viver hoje é receber em um só dia enormes doses de estímulos e ruídos, tendo cada um deles poder de afetar nosso mundo interior, produzindo as mais diversas preocupações, ansiedades, distrações, perturbações inquietações. Estabelece-se, então, o círculo vicioso da inquietação: um ambiente externo alimenta a inquietude do nosso mundo interior; e, por sua vez, é exatamente esta interioridade perturbada a responsável por um mundo cada vez mais barulhento e perturbadoramente estimulante. Falar da experiência do silêncio em tal contexto é, sem dúvida, nadar contra a correnteza. Quando tudo, fora e dentro de nós, convida-nos ao barulho e à inquietação, buscar experimentar a quietude é uma árdua tarefa. Além disso, nosso vício na eficiência vai perguntar: “Para quê serve o silêncio?
Que resultados práticos ele proporciona?” Aparentemente, nenhum – por isso mesmo, essa procura pode parecer-nos desestimulante e ineficaz. Mas, certamente, o silêncio tem, sim, um lugar importante na nossa vida e mais especificamente em nossa espiritualidade. Ele não é uma estratégia; antes, trata-se de uma disciplina espiritual. Portanto, promovê-lo não é apenas deixar de falar com os lábios, mas sobretudo calar as muitas vozes interiores. Este silêncio não é somente um jejum de palavras; é um esforço para aquietar ou mesmo domar as múltiplas perturbações interiores que nos assolam.
É precisamente esta a lição advinda da experiência do profeta bíblico Jeremias. Ele escreve um livro barulhento. Chama-o de Lamentações. Nele, registra suas inúmeras queixas para com Deus, com sua missão, com o seu povo, com seu mundo. O profeta grita seus lamentos grávidos de irritação, decepção, frustração, ansiedade e muita raiva contida. Sente-se perdido. Tudo que desejava era salvação de Deus. Pois ele a teve e depois reflete sobre esta experiência. “Bom é aguardar a salvação do Senhor, e isso, em silêncio” (Lamentações 3.26), relata. No deserto vivido pelo escritor bíblico, ele encontra no silêncio seu oásis. Ele nos convida a aguardar a salvação que vem de Deus numa postura de profunda quietude. Ao contrário do que possa parecer, aguardar em silêncio uma salvação que ainda não tinha vindo não é ruim ou angustiante para Jeremias – ao contrário, ele descreve esse processo como algo bom.
O silêncio da alma é um gozo a ser usufruído, um elemento curador da ansiedade. Ele nos acalma até que a salvação se faça presente em nossa vida. Este silencioso aguardar pelo socorro que vem do Senhor pode nos levar a uma profunda serenidade interior, uma libertação de perturbações inimagináveis, moldando-nos para ter uma espera tranqüila. Jeremias nos ensina que há lugar para o silêncio na nossa relação com Deus. Mais que isso: poder-se-ia mesmo afirmar ter o silêncio uma importância central na nossa experiência espiritual. Nas palavras do profeta, a quietude aparece quase que como uma condição para se usufruir desta salvação. Não há salvação fora do silêncio, pois este é o prelúdio para se experimentar aquela. É preciso entender esta salvação mencionada pelo profeta no seu aspecto cotidiano.
O que Jeremias descreve é a intervenção salvífica do Senhor de Israel naquele momento histórico. Não poderia ser de outra maneira, posto que se reduzirmos a salvação de Deus à eternidade, perdemos a sua beleza presente nas tramas e dramas da nossa existência. Assim, há uma dimensão da ação de Deus que nos salva da ansiedade, da inquietação, da perturbação – enfim, dos múltiplos encarceramentos vividos por cada um de nós. É de dentro deste contexto que o silêncio torna-se condição fundamental para se experimentar a salvação diária nascida no alto, porém concretizada dentro e ao redor de nós.