terça-feira, 26 de maio de 2020

Feridas do coração

Henri Nouwen nos lembra de algo interessante demais. Ele disse: Ao longo dos anos, vim a perceber que a maior armadilha na nossa vida não é sucesso, popularidade, ou poder, mas auto-rejeição. Sucesso, popularidade, e poder podem realmente apresentar uma grande tentação, mas a sua qualidade sedutora, muitas vezes, vem da forma como eles são parte de uma tentação muito maior de auto-rejeição. Quando começamos a acreditar nas vozes que nos chamam inúteis e indignos de ser amados, então sucesso, popularidade e poder são facilmente percebidos como soluções atraentes. A verdadeira armadilha, no entanto, é a auto-rejeição.
Eu tive que tratar esse detalhe no meu coração durante algum tempo. O que aconteceu no meu coração é que tive rachaduras lá dentro que afetaram alguns processos em mim. Alguns sonhos se despedaçaram lá dentro. Levou um tempo para ser tratado e reerguido nessa item do coração. 
A grande verdade é que a nossa necessidade de afeição, atenção, influência e poder são ancoradas em feridas muito antigas e algumas delas estão ocultas no nosso ser mais intimo. Essas feridas podem ser um grande reflexo de não nos sentirmos amados pelos pais, pelos irmãos e amigos. Essas feridas podem ser fruto de palavras ditas a nós, como foi o meu caso com o meu pai. 
Vários modos como respondemos às pessoas hoje, podem ser reflexo desse canto do coração onde moram as feridas latentes e que nos machucam quando somos lembrados. O nosso desejo de ser amado tanto hoje pode ser ligado a algumas experiências de rejeição. Claro que esse é um assunto que não gostamos de tratar, por isso, vamos para a terapia ou para o gabinete pastoral. Lá choramos, lamentamos, falamos mais da alma, do ser e desse canto do coração onde residem essas feridas da alma e do ser.
Acredito que necessitamos entender e viver no coração a realidade da cura das feridas pelo Eterno Deus. Somente Ele pode nos curar e restaurar lá dentro. Só Deus pode tratar da nossa alma ferida. Somente Deus conhece todos os pormenores desse canto do coração. Lembro do que Thomas Merton disse: Quer você entenda isso, ou não, Deus o ama, está presente em você, vive em você, habita em você, chama você, salva você e lhe oferece entendimento e compaixão que não se compara a nada que você algum dia tenha encontrado em qualquer lugar.
Deus nos chama a pararmos de nos esconder e, abertamente, nos aproximarmos dele. Deus é o Pai que nos socorre em todos os dilemas do coração, Deus pranteia por nós quando a vergonha e o detestar-se nos imobilizam. Claro que é desconfortável, intolerável quando temos que confrontar nosso eu verdadeiro. Lá estão essas feridas escondidas e que precisam ser expostas. Deus cuida disso e renova a nossa vida. Não é atoa que o salmista diz: Estou aflitíssimo, vivifica-me, Senhor, segundo a tua Palavra. (Salmos 119.107) 
Que essa seja a nossa oração na presença daquele que cura todas as feridas da nossa alma! (Alcindo Almeida)

4 comentários:

  1. Verdade pastor.Eu sei bem como é.

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  2. Ótima reflexão. Devemos nos incentivar a agir sempre procurando o melhor para o nosso próximo e nós mesmos colheremos os frutos.

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