
Estas são algumas páginas tiradas do livro: Henri J.M. Nouwen, Crescer - Os três movimentos da vida espiritual, São Paulo: Paulinas, 2001.
Como seres humanos somos chamados a viver juntos, em comunhão, mas esta vocação só se realiza na medida que aceitamos positivamente a nossa solidão. No entanto, temos medo de enfrentarmos positivamente a solidão.
Temos a tentação crescente de fugir dela, mas fugindo não encontramos a paz do coração, só evitamos ansiosamente a responsabilidade de viver em plenitude a nossa existência.
Estar bem connosco, em serena solidão, dialogar com os sentimentos que vivem dentro de nós, tudo isso representa o primeiro passo para realizarmos uma relação autêntica com os outros e com Deus.
O-primeiro-movimento-da-vida-espiritual
A primeira característica da vida espiritual consiste no movimento contínuo da solidão para o recolhimento.
A primeira característica da vida espiritual consiste no movimento contínuo da solidão para o recolhimento.
A segunda é igualmente importante: é o movimento através do qual as hostilidades se podem transformar em hospitalidade. É aqui que a relação connosco mesmos se pode tornar na verdade uma possibilidade aberta para uma relação renovada com os outros.
O nosso mundo está cheio de pessoas isoladas que procuram um lugar hospitaleiro, isto é alguém capaz de acolher e escutar, alguém com que poder falar sem o medo de ser julgados ou explorados.
O nosso mundo está cheio de pessoas medrosas, assustadas, defensivas e agressivas, ansiosamente agarradas ao seus bens materiais e inclinadas para a desconfiança, sempre à espera que surja um inimigo.
Saber acolher, vencer a desconfiança, converter os estrangeiros em hóspedes, os inimigos em convidados, eis a nossa vocação. Uma abertura hospitaleira que produz a verdadeira fraternidade.
O-terceiro-movimento-da-vida-espiritual
Com este terceiro movimento da vida espiritual - da ilusão para a oração - entramos em relação com Deus. O encontro com Deus é que torna possível o movimento da solidão para o recolhimento e da hostilidade para a hospitalidade.
Com este terceiro movimento da vida espiritual - da ilusão para a oração - entramos em relação com Deus. O encontro com Deus é que torna possível o movimento da solidão para o recolhimento e da hostilidade para a hospitalidade.
Não é fácil falar e compreender este terceiro movimento, não porque seja vago ou irreal, mas porque estamos a falar de algo tão próximo de nós, que mal nos permite uma distância necessária para o compreender.
Talvez, é mesmo por isso, que esta realidade tão profundas da nossa, tantas vezes é facilmente banalizada. O que nos é mais próximo é também mais difícil de exprimir e explicar. Isto não é apenas verdade para os namorados e os artistas, mas também para os que rezam.
No entanto, temos mesmo que falar da oração tal como falamos do amor, dos amantes, da arte e dos artistas; porque se perdemos o contacto com esse centro da nossa vida espiritual - denominado oração - perdemos o contacto com Deus, origem e fonte da nossa vida. Sem oração, o nosso recolhimento perde profundidade e a nossa hospitalidade perde a sua intensidade.
O movimento da hostilidade para a hospitalidade determina as nossas relações com os outros. Provavelmente nunca estaremos completamente livres das nossas hostilidades, mas, aos poucos, podemos tomar consciência da hospitalidade que recebemos dos outros e sentirmos gratidão pêlos momentos em que nós conseguimos…e tornarmo-nos mais sensíveis aos nossos movimentos interiores.
Todos precisamos de acolhimento e - devemos reconhecer - as pessoas que mais precisam são, antes de mais, os membros da nossa família. Depois poderemos expandir a nossa hospitalidade a horizontes mais vastos. Iremos observar com cuidado três tipos de relações que podem ser melhor entendidas na perspectiva da hospitalidade: a relação entre pais e filhos, a relação entre professores e os seus estudantes e a relação entre profissionais - tais como médicos, trabalhadores de acção social, psicólogos, orientadores, enfermeiras, pastores - e os seus doentes, clientes, orientados e paroquianos.
Nestes três tipos de relações ficamos de algum modo envolvidos na nossa própria história.
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