O quadro de Rembrandt esteve muito perto de mim durante
todo este tempo. Mudei-o de sítio vezes sem conta: do escritório
para a capela, da capela para a sala de estar de Dayspring
(a casa de oração de Daybreak) e da sala de estar de Dayspring
outra vez para a capela. Falei dele milhares de vezes, dentro e
fora da comunidade de Daybreak: aos doentes mentais e aos
que os atendem, a ministros e aos sacerdotes; a homens e mulheres
de todas as condições. Quanto mais falava sobre O Filho
Pródigo, mais o considerava como se fosse a minha própria
obra: um quadro que encerra, não só o essencial da história que
Deus quer que eu conte, mas também o que eu próprio quero
contar a Deus e aos homens e mulheres de Deus.
Nele está todo
o Evangelho. Nele está toda a minha vida e a dos meus amigos.
Este quadro converteu-se numa misteriosa janela através da
qual posso pôr um pé no Reino de Deus. É como uma entrada
imensa que me dá acesso ao outro lado da existência para daí
Encontro com um quadro contemplar a estranha variedade de pessoas e acontecimentos
que enchem a minha vida diária.
Durante anos procurei ver Deus na diversidade das experiências
humanas: solidão e amor, dor e alegria, ressentimento e
gratidão, guerra e paz. Tentei compreender os altos e baixos da
alma humana para conseguir perceber a fome e a sede que só
um Deus cujo nome é Amor pode saciar. Procurei descobrir o
duradouro para além do passageiro, o eterno para além do temporal,
o amor perfeito para além dos medos que nos paralisam,
e a consolação divina para além da desolação provocada pela
angústia e desespero humanos. Procurei projetar-me, para
além da condição mortal da nossa existência, numa presença
mais duradoura, mais profunda, mais aberta e mais maravilhosa
do que podemos imaginar; e tentei falar dessa presença como
de uma presença que, desde agora, pode ser vista, ouvida e palpada
por aqueles que querem acreditar (A volta do filho pródigo de Henri Nouwen).
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