Texto
para reflexão: (Samuel
23.14-18)
John C. Maxwell no livro Os 4 segredos do
sucesso apresenta
três problemas para o exercício da
mentoria e amizade: Ego, Insegurança e individualismo. Ele chama
a nossa atenção que o sucesso não é alcançado sozinho. Por isso, as palavras: ego, insegurança, individualismo não
cabem neste processo[1]. Estabelecer
relacionamentos positivos deve ser um desafio enorme para a vida pastoral.
Precisamos nos conectar com as pessoas em diferentes níveis de liderança. E
para isto precisamos jogar fora estes itens. Como fugir destes problemas:
ego, insegurança,
individualismo?
Eu
diria que a resposta é através do exercício da oração na mentoria na vida.
Lembro-me de um dos nossos encontros do Projeto Timóteo que o Ricardo Barbosa
afirmou: “É na oração que eu descubro o
perdão, a graça e o amor do Pai. E isto com a ajuda de um pai espiritual”.
Há
algum tempo venho refletindo com alguns amigos na caminhada na igreja sobre a
necessidade de termos alguém a quem prestamos conta da nossa vida,
particularmente da nossa vida espiritual. Percebi na minha caminhada que precisava
de alguém a quem me submeter. Foi aí, que Deus colocou na caminhada o Projeto
Timóteo, um grupo que visa o pastoreio mútuo, o pastoreio em família.
Um
grupo que visa a ajuda do outro na caminhada com Deus, no momento de oração na
presença do Pai. No entanto, considerando a complexidade do processo humano e
estes itens ruins dentro de nós que Maxwell
comenta, sei que não é fácil e nem é muito comum nos dias atuais, termos alguém
a quem recorrer. O fato é que na nossa vida não
podemos andar sozinhos, ninguém vive o Evangelho sozinho, ninguém caminha na
vida cristã sozinho. Por isso, precisamos de um “pai ou mentor espiritual”.
O
que é um mentor espiritual?
Esta pessoa é alguém que reconhecemos por sua sabedoria e
temor a Deus, e a quem nos submetemos para expor nossa alma e coração. É mais
ou menos a ideia que o índio norte–americano tem sobre a amizade. Para ele, o
amigo é a pessoa que carrega as suas tristezas nas costas[2].
Temos
a necessidade de ter um amigo assim e não se trata necessariamente de um
confessor, nem mesmo de um conselheiro, mas de um pai, no sentido mais literal da palavra. Então, mentor é alguém que
nos ajuda a nos conhecer na nossa relação com Deus e com o próximo. A mentoria
espiritual é o trabalho que envolve a cura da pessoa[3].
Gregório
de Roma no clássico sobre cuidado pastoral - Regra Pastoral chamava-a de “arte das artes e a ciência das
ciências, por se tratar da reorientação da alma humana”. O uso deste termo
sempre esteve ligado à filosofia grega antiga em que a cura era vista como
tarefa de um “sábio” que guiava a pessoa à sua interioridade. Na avaliação
Houston ele afirma que não podemos ser pessoas sem relacionamentos[4].
Falando sobre a necessidade de amigos você deve estar se perguntando: o que é
um mentor espiritual?
Quando
falamos em solidão encontramos logo o coração da mentoria. E qual é o coração
da mentoria? É prestar a atenção na vida das pessoas e naquilo que é único. Na
perspectiva bíblica não podemos andar sozinhos, por isso, precisamos de um “pai
ou mentor espiritual”.
A
nossa cultura tenta eliminar o lugar e o nosso espaço como criação relacional.
Ela nos dá uma ilusão de que o espaço relacional não existe mais. Uma das
coisas mais significativas é que temos de amar o nosso próximo e isso
transcende qualquer coisa. Ser vizinho do outro é ser criação de Deus e isso
pode acontecer através da mentoria.
Estamos
permanentemente convivendo com pessoas e seus conflitos espirituais e
emocionais, sem nos darmos conta das nossas próprias fraquezas e pecados.
Acabamos por transferir nossos traumas, culpas e crises por não conhecê-los.[5]
Pois bem, a mentoria espiritual é uma prática que tem perdido o seu significado
e lugar entre nós porque optamos pelo individualismo como forma de
sobrevivência no mundo moderno. O
mentor espiritual se trata de alguém que caminha conosco e nos ajuda a conhecer
nossa interioridade, nossa fraqueza e pecados. E esta mentoria nos ajuda a
encontrar o caminho do nosso coração e da oração. James Houston diz: “O mentor nos faz lembrar a importância de
sermos seres relacionais e da necessidade de trabalharmos juntos todos os lados
da nossa vida humana” [6].
Precisamos
de alguém que nos ajude a aprender o que significa a oração e o estar perto do
Pai Celestial.[7] Henri
Nouwen diz algo extraordinário sobre esta realidade:
“Em
nossa sociedade voltada para a solução, é mais importante do que nunca
compreender que querer aliviar a dor sem compartilhá-la é como querer salvar
uma criança de uma casa em chamas sem o risco de se ferir. O envolvimento com
os outros é o engajamento mais profundo nas questões cruciais de nosso
semelhante” [8].
Davi
é alguém que tem um mentor na sua vida. Este mentor é Jônatas filho de Saul. E
foi amizade com este mentor espiritual que privou Davi da loucura, da amargura,
da doença e da vingança. Esta mentoria foi fundamental para a amizade de Davi e
Jônatas (ler I Samuel 18.1; 20.16, 17, 42,43).
No texto
percebemos que a mentoria de Jônatas na vida de Davi o livrou de ser alguém
extremamente amargurado, frustrado com a vida, pois, Davi foi perseguido por
Saul sem nenhuma causa. Exatamente nos momentos mais difíceis, Jônatas esteve
com Davi e o fortaleceu na caminhada com Deus.
Embora Jônatas
fosse filho de Saul, o rei de Israel, ele não hesitou em nome da amizade por
Davi a não concordar com seu pai, não foi cúmplice de seu pai e nem o apoiou
para perseguir a Davi. Como mentor de Davi, Jônatas o amparou, andou junto, não
se esqueceu dele mesmo estando longe.
Ele sofreu junto
com Davi, abriu mão do trono por ser o filho do rei, porém, compreendeu que
Davi era o escolhido de Deus (I Samuel 18.17). Vejam a mentoria da parte de Deus na
vida de Davi. Através de Jônatas, Deus faz Davi levantar a sua cabeça e olhar
para frente. Olhem as afirmações
animadoras de Jônatas: Não temas; porque não
te achará a mão de Saul, meu pai; Tu reinarás sobre Israel, Eu serei contigo o
segundo; o que também Saul, meu pai, bem sabe (I Samuel 18.17).
Creio
que Deus quer nos usar como instrumentos para sermos amigos de corpo e alma do
nosso próximo e considerá-los como mentores do nosso caminhar espiritual.
Salomão disse: “Em todo tempo ama a
amigo; e na angústia nasce o irmão” (Pv. 17.17). “O homem que tem amigos pode
congratular-se; mas há amigo mais chegado do que irmão” (Pv. 1.24).
Amigos como Fançois Fenelon e o padre Tronson. Ele era o filho mais novo de um nobre da Gasconha. E sob a mentoria deste padre ele aconselhou o Duque da Borgonha, neto mais velho do rei Luís XIV e herdeiro do trono francês. O tornou numa pessoa amável, paciente e amigo de Fenelon pelo resto de sua vida. Vejam uma das palavras dele para o seu amigo:
Amigos como Fançois Fenelon e o padre Tronson. Ele era o filho mais novo de um nobre da Gasconha. E sob a mentoria deste padre ele aconselhou o Duque da Borgonha, neto mais velho do rei Luís XIV e herdeiro do trono francês. O tornou numa pessoa amável, paciente e amigo de Fenelon pelo resto de sua vida. Vejam uma das palavras dele para o seu amigo:
“Ponha de lado
todo orgulho do intelecto. Abra o seu coração para o Senhor e conte-lhe tudo.
Escute a sua voz. O amor de Deus realiza todas as coisas de forma tranquila e
completa, não é ansioso nem incerto” [9].
Precisamos
buscar essa amizade da mentoria padrão para nossa vida. Uma amizade enraizada
no coração, assim, como aconteceu na vida de Jônatas e Davi.
Que a graça do
Senhor caia sobre nós para que busquemos estes pais, mentores espirituais para
nos ajudarem na caminhada cristã!
[1] MAXWELL, John C. Os 4 segredos do sucesso. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2008, p. 81
[2]
INNES, Dick. Coração ferido. Rio
de Janeiro: Textus, 2000, p. 111.
[3]
SOUSA, Ricardo Barbosa. Janelas
para a vida. Paraná- Curitiba: Encontrão, 1999, p. 42.
[4] HOUSTON, James. Encontro
no Servo de Cristo, 2006.
[5]
SOUSA, 1999, p. 43.
[6]
HOUSTON, James. Mentoria Espiritual. Rio
de Janeiro: Textus, 2002, p. 12.
[7]
PETERSON, Eugene. Pastor segundo o coração de Deus. Rio de Janeiro: Textus, 1999,
p. 170.
[8] NOUWEN, Henri. Crescer:
os três movimentos da vida espiritual. São Paulo: Paulinas, 2000, p. 59.
[9]
HOUSTON, 2002, p. 47.
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