terça-feira, 30 de novembro de 2010

Aliança evangélica brasileira

Estou aqui no encontro da aliança evangélica...um momento histórico..!!!
Aqui estão todas as figuras da Alinça evangélica brasileira...já vi o Ricardo Barbosa, Agreste, Ed Renê, Robson Cavalcante, Ariovaldo Ramos, José João, Osvaldo Prado, Ziel Machado, Hilder Stutz, Alex Farjado (jornalista), Elbem Lens César (a lenda viva), Jasiel e Ivone Botelho, Josué Campanã, Valdir Steuernagel, Carlinhos Veiga, Marcelo Gualberto, Bispo Nelson, Carlos Alberto Bezerra e etc..

sábado, 27 de novembro de 2010

A trajetória de um moço de Deus chamado Davi

-Texto para reflexão: Porque, na verdade, tendo Davi servido à sua própria geração, conforme o desígnio de Deus, adormeceu, foi para junto de seus pais e viu corrupção (Atos 13.36).
Geralmente nas nossas relações olhamos para aquele que é simpático, para aquele que é mais divertido e tem boa influência no meio da sociedade. Geralmente não temos facilidade de dar atenção para os menos favorecidos, os mais humildes, os mais complicados na vida.
Muito provavelmente Samuel desceu para a casa de Jessé com este pensamento, com este comportamento. Talvez ele tenha pensado: vou ungir rei aquele que for mais forte, aquele que mais me agradar.
Só que a palavra de Deus para o coração de Samuel foi: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque eu o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.
Samuel não deveria agir como as pessoas agem, elas olham para a aparência, para as características externas, para o comportamento superficial das pessoas. Samuel deveria olhar como Deus olha, Samuel deveria olhar o caráter, o coração, a alma do futuro rei e não aquilo que fazia ou o que possuía.
O texto fala que Jessé chamou a Abinadabe, e o fez passar diante de Samuel, o qual disse: Nem a este escolheu o Senhor.
Jessé fez passar a Samá; Samuel, porém, disse: Tampouco a este escolheu o Senhor. Jessé apresentou sete de seus filhos diante de Samuel; porém Samuel disse a Jessé: O Senhor não escolheu a nenhum destes. Talvez ele não entendesse muito bem o propósito de Deus naquele momento. Mas, Samuel pergunta a Jessé: São estes todos os teus filhos? Respondeu Jessé: Ainda falta o menor, que está apascentando as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Manda trazê-lo, porquanto não nos sentaremos até que ele venha aqui.
O texto diz que Jessé mandou buscá-lo e o fez entrar. O versículo 12 diz que o mais novo – o pastor de ovelhas era ruivo, de belos olhos e de gentil aspecto. Então disse o Senhor: Levanta-te, e unge-o, porque é este mesmo. Samuel tomou o vaso de azeite e o ungiu no meio de seus irmãos e daquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi.
Que coisa extraordinária a vida deste moço de Deus. As histórias lindas sobre este jovem continuam e o texto informa no capítulo 16.14 que o Espírito do Senhor se retirou de Saul e o atormentava um espírito maligno da parte do Senhor.
Os criados se preocuparam com o espírito maligno da parte de Deus que atormentava ao seu rei. E sugeriram dizer que buscassem um homem que soubesse tocar harpa; e quando o espírito maligno da parte do Senhor viesse sobre ele, o homem tocaria com a sua mão e ele sentiria melhor. E acharam a Davi e as suas qualidades eram:

1. Sabia tocar bem a harpa;
2. Era forte e destemido;
3. Era homem de guerra;
4. Era sisudo em palavras e de gentil aspecto;
5. O Senhor era com ele.

E quando Davi veio se apresentar a Saul, o texto diz que se agradou muito dele e o fez seu escudeiro. E quando o espírito maligno da parte de Deus vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa, e a tocava com a sua mão; então Saul sentia alívio, e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele.
Fomos criados para compartilhar o caráter e o amor de Deus através dos relacionamentos com os outros. Deus nos criou para os outros, somos destinados ao amor, para receber amor e para compartilhar amor. Somos criados para refletir na nossa vida o caráter de Deus.
Davi é alguém assim, mesmo com uma idade muito nova. Ele tem 17 anos e já demonstra que é envolvido com o caráter de Deus na sua vida. Quando um rei chamado Saul está apavorado diante das situações na sua vida. Ele precisa de alguém para ajudá-lo. Deus levanta este menino que carrega no seu coração o temor dele.
O texto diz que Davi sabia tocar bem a harpa; era forte e destemido; era homem de guerra; era sisudo em palavras e de gentil aspecto e o melhor, o Senhor era com ele. Ele tinha o caráter de Deus para ser mostrado ao rei Saul. Ele refletia o querer de Deus na sua vida, ele demonstrou amor vindo do próprio Deus em relação a Saul no meio da sua aflição que vinha da parte de Deus.
Somos convidados pelo Pai para sermos pessoas assim. Percebam que Davi achou graça diante do rei. E quando o espírito maligno da parte do Senhor vinha sobre Saul, Davi tocava com a sua mão e ele sentia-se melhor. A presença de Davi era marcante na vida de Saul. Como está o reflexo de Deus nas nossas relações?
Percebam que o nosso caminho é o cuidado com os pequeninos de Deus, com aqueles que estão enfermos, doentes, encarcerados, esquecidos, abandonados. Ser adorador é isto, é refletir o caráter de Deus nas relações com estas pessoas. Pois, o essencial de tudo é realmente ser parecido com Jesus. E a maneira de vivermos isto é cuidando dos pequeninos de Deus. Isto deve ser feito com amor sem que as pessoas percebam, porque se faz naturalmente.
Nós só não percebemos que não respiramos, quando perdemos o ar. Assim, é a vida do discípulo, ele faz o bem, ele cuida dos pequeninos como algo absolutamente natural. Ele reflete através da própria vida o caráter de Deus.
Quando nos parecemos com Jesus refletindo o seu caráter, não podemos ficar passivos vendo o caos da sociedade (RAMOS, Ariovaldo. XII Encontro do Projeto Timóteo. São Paulo: Hotel Dinastya Jundiaí, Pastoreio do Rebanho – o que é igreja?).
Não podemos ficar vendo a desgraça do nosso país sem nos envolver e tocar a harpa que traz consolo e refrigério para o coração. Não podemos deixar de estar ao lado daqueles que sofrem. Seja um Davi da vida e reflita o caráter de Deus na sua própria vida!
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Alcindo Almeida

Cada Dia feito pelo Pr. Hernandes D. Lopes


Compartilho com vocês que acabei de voltar de um momento legal na IPL. Nós distribuímos 2 mil Cada Dias no Bairro da Lapa. Saímos com o mestre Canelhas e tb foram vários irmãos e muitos adolescentes. Tive a oportunidade de falar do Evangelho para 18 pessoas.
Vejo que é impressionante como as pessoas estão carentes. Elas estão carentes de algo profundo para a alma. Não dessa teologia idiota da prosperidade que fala de algo que é terreno, mas de algo que fale dos dilemas da alma, das necessidades espirituais, do coração.
O tema do Cada Dia feito pelo Pr. Hernandes Dias Lopes como todos sabem é: Jesus, nome sobre todo o nome. Você aborda as pessoas com este tema e elas param para ouvir. Numa conversa com uma moça chamada Carla, na medida em que eu falava que Jesus é o nome precioso, nele encontramos vida, significado e razão para a existência, percebi a emoção dela e no fim desejei um bom dia a ela.
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Alcindo Almeida

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sensibilidade para ouvir a voz do Pai no coração

- Texto para reflexão: Fala, porque o teu servo ouve (I Samuel 3.10b).

Eugene H. Peterson  no livro A oração que Deus ouve: Os Salmos como guia básico de oração diz algo precioso:

"A oração é um caminhar para dentro, uma forma de receber e aprofundar o signifi cado da narrativa. A fé é o mais interior dos atos humanos, e a oração é o meio pelo qual a santidade e a saúde são transplantadas para as partes sem fé e inseridas nas partes vazias" (Peterson, Eugene H. A oração que Deus ouve: Os Salmos como guia básico de oração. Brasília, DF: Ed. Palavra, 2007, p. 77).

É fabuloso olharmos para o versículo 1de  e perceber a vida de Samuel como começa. O texto diz que o menino Samuel servia ao Senhor perante Eli. Vejam que Samuel precisa de um exercício no seu coração para saber discernir a voz do Pai no seu coração. Não é da primeira vez que ele compreende, que ele percebe que é a voz do Senhor.
Ele vai sendo sensibilizado, vai sendo trabalhado para ouvir a voz do Senhor. Daí, depois de uma compreensão da parte de Eli, ele é sensibilizado para aprender a ouvir à voz do Pai. Então a resposta de Samuel é a seguinte no versículo 10: Fala, porque o teu servo ouve. A grande verdade é que em nos nossos dias, estamos como que órfãos de momentos semelhantes e este na vida de Samuel.
Precisamos de um momento onde ficamos na presença do Senhor. Um momento em que não temos a tentação de fazer alguma coisa que julgamos útil: ler algo estimulante, pensar sobre uma coisa interessante, ou experimentar algo extraordinário. Mas, exclusivamente o nosso momento de silêncio é exatamente um momento em que queremos estar na presença de nosso Senhor de mãos vazias, vulneráveis, sem nada para apresentar, provar ou defender.
Creio que é exatamente assim que, lentamente, aprendemos a ouvir a voz tranqüila de Deus (NOUWEN, Henri. Espaço para Deus. Rubiataba Go: Harper And Row Publishers Inc New York, 1984, p. 18). Mas você pergunta: pastor o que fazer com nossas muitas distrações?
Devemos lutar contra estas distrações e esperar que desta forma nos tornemos mais atentos à voz de Deus?
Concordo plenamente que criar um espaço vazio onde podemos ouvir o Espírito de Deus não é fácil quando colocamos toda nossa energia na luta contra as distrações. Se confrontamos as distrações de maneira tão direta, acabamos lhes dedicando mais atenção que merecem. Então, qual o verdadeiro segredo para termos um momento especial como Samuel teve na presença do Pai?
Precisamos de sensibilidade no coração para ouvirmos à voz do Senhor. O exercício é viver a Palavra no coração e servir ao Senhor. Com certeza, ele nos preparará para o momento de ouvir à sua voz. Samuel servia ao Senhor, ele estava na presença do Pai sempre. E veio a ao Senhor de maneira que pôde dizer: Fala, porque o teu servo ouve.
Num tempo de tanta agitação precisamos voltar o nosso coração para o Palavra e lá buscarmos a sensibilidade para ouvir a voz tranqüila de Deus Pai. Precisamos falar como Davi diante do Senhor: Quando tu disseste: buscai o meu rosto. O meu coração te disse a ti, o teu rosto, Senhor, eu buscarei.
Quando temos esta sensibilidade para ouvir a voz do Pai, acontece que nossas preocupações barulhentas perdem lentamente seu poder sobre nós e a atividade renovadora do Espírito de Deus, aos poucos se manifesta e passamos a desfrutar de comunhão profunda com o Senhor. Comunhão esta que nos faz responder como Samuel: Fala, porque o teu servo ouve. Este processo espiritual exige de nós solidão, silêncio para que separemos tempo e espaço em nosso coração para ouvirmos suavemente a voz do Pai.
O nosso coração precisa se tornar um aposento tranqüilo da presença do Pai. Assim quanto mais nos treinarmos a investir tempo com Deus e unicamente com ele, mais descobriremos que em todo o tempo e em todo o lugar Deus está conosco.
Descobriremos que Deus está falando de maneira profunda ao nosso coração. Então poderemos reconhecê-lo como Samuel e afirmarmos: Fala, porque o teu servo ouve.
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Alcindo Almeida

Estava lendo R. C. Sproul

Código: 85-7325-132-8  Preço: $26.00
Estava lendo R. C. Sproul – Cada um na sua. Foi quando me deparei com uma frase que falou profundamente ao meu coração:
“Infelizmente eu tenho um grande inimigo que fica no caminho da minha comunhão na prometida presença do Pai: eu mesmo” (SPROUL, R. C. Cada um na sua. São Paulo: Mundo Cristão, 1998, p. 101).

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A oração que Deus ouve...

E. Peterson afirma: "Oração é a linguagem utilizada no relacionamento pessoal com Deus. Ela expressa profundamente o que sentimos, ansiamos ou respondemos diante de Deus. Ele fala conosco e nossas respostas são as nossas orações. Essas respostas nem sempre são articuladas: silêncio, suspiros e grunhidos também constituem respostas" (Peterson, Eugene H. A oração que Deus ouve. Os Salmos como guia básico de oração. Brasília, DF: Ed. Palavra, 2007, p.25).

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mais uma frase de Jacques Ellul

Nenhuma sociedade é possível quando as pessoas entram em competição de poder umas com as outras, ou cobiçam e acabam desejando as mesmas coisas (Jacques Ellul. Anarquia e cristianismo. São Paulo:   Garimpo, 2010, p. 24).




terça-feira, 23 de novembro de 2010

Uma frase de Jacques Ellul

Uma frase que me chamou demais a atenção no livro Anarquia e Cristianismo (Jacques Ellul) foi: "O Deus bíblico não é uma máquina ou um grande computador com quem não se pode discutir e que funciona de acordo com um programa, assim como o homem não é, para Deus, um robô que só pode executar as funções que lhe foram atribuídas por seu construtor" (ELLUL, Anarquia e cristianismo. São Paulo: Garimpo, 2010, p. 46).

ANARQUIA DE UM PONTO DE VISTA CRISTÃO Uma parte do Livro - Anarquia e Cristianismo

O que é anarquia?
Existem diferentes formas de anarquia e diferentes correntes. Primeiramente, devo dizer qual é o meu contexto de anarquia. Por anarquia, eu primeiro me refiro à não-violência. Portanto, não posso aceitar niilistas ou anarquistas que escolhem a violência como maneira de ação. Eu certamente entendo o recurso da violência, da agressão.
Lembro-me de passar pela Bolsa de Paris e dizer a mim mesmo que uma bomba poderia ser colocada ali. Isso serve como um símbolo e um aviso. Não conhecendo ninguém que fabricasse uma bomba, não fiz nada!
O recurso à violência é explicável, penso eu, em três situações. Primeiro, temos a doutrina dos niilistas russos que se a ação é usada sistematicamente para matar aqueles que mantém o poder – ministros, generais e chefes de polícia – a longo prazo as pessoas terão tanto medo em assumir as funções do Estado, que este combalirá e será facilmente derrubado. Achamos algo parecido nos terroristas modernos. Entretanto, esta linha de pensamento subestima a habilidade dos órgãos do poder, assim como da sociedade, de resistir e reagir.
Então, há desespero quando a solidez do sistema é vista, quando a impotência de estar cara-a-cara com uma administração, ou um sistema econômico invencível (quem pode prender multinacionais?), e a violência é uma espécie de choro de desespero, um último ato no qual um esforço é feito para dar expressão pública a uma discussão ou uma odiada opressão. É o nosso desespero presente que está chorando alto, mas também é a confissão de que não há outra maneira de ação e não há razão para a esperança.
Finalmente, há o oferecimento de um símbolo ao qual eu já fiz uma alusão. Um aviso é dado que aquela sociedade é mais frágil do que se supõe e que forças secretas estão trabalhando para derrubá-la. Não interessa, entretanto, qual seja a motivação para a violência ou agressão, eu sou contrário. Sou contrário em dois níveis.
O primeiro é simplesmente tático. Vemos que movimentos não-violentos, quando bem geridos (e isso requer uma disciplina forte e boa estratégia), são muito mais efetivos do que movimentos violentos (a não ser quando uma verdadeira revolução é deflagrada).
Não pensamos apenas no sucesso de Gandhi, mas mais perto de casa é evidente que Martin Luther King fez muito pelo avanço da causa dos negros americanos, considerando que movimentos posteriores, como os Panteras Negras e os muçulmanos negros, que quiseram avançar rapidamente através do uso da violência, não apenas não ganharam nada como inclusive perderam alguns dos avanços conseguidos por King. Igualmente, os movimentos em Berlim em 1956, depois na Hungria e na Tchecoslováquia, todos falharam, mas Lech Walesa, ao impor uma forte disciplina de não-violência no seu sindicato se manteve firme contra o governo polonês.
Uma das falas do grande líder sindical dos anos 1900-1920 foi: “greves, sim, mas violência, nunca”. Finalmente, embora isso seja discutível, o grande chefe zulu na África do Sul, Buthelezi, apoiava uma estratégia de total não-violência, o oposto de Mandela (da tribo Xhosa), e por tudo, poderia fazer infinitamente mais pelo fim do Apartheid do que o que foi alcançado pela violência errática (muitas vezes entre negros) do Congresso Nacional Africano. Um governo autoritário só pode responder à violência com violência.
Minha segunda razão é obviamente cristã. Biblicamente, amor é o caminho, não violência (a despeito das guerras narradas na Bíblia Hebraica,[11] as quais eu francamente confesso serem bastante embaraçosas).[12] Não usar a violência contra aqueles que estão no poder, não significa não fazer nada. Irei demonstrar que o cristianismo significa uma rejeição ao poder e uma luta contra o mesmo. Tal fato foi completamente esquecido durante os séculos da aliança do trono com o altar, ainda mais quando o papa se tornou o líder de um Estado, e por vezes agiu mais dessa maneira do que o líder da Igreja[13].
Se eu excluir o anarquismo violento, ainda fica o pacifista, anti-nacionalista, anti-capitalista, moral e anti-democrático anarquismo (que é hostil à falsa democracia criada pelos estados burgueses). Subsiste ainda o anarquismo que age pelos meios de persuasão, pela criação de pequenos grupos e redes, denunciando falsidade e opressão, visando uma real derrubada de todos os tipos de autoridade, com as pessoas falando ao fundo e se organizando. Tudo isso é muito próximo a Bakunin.
Entretanto, ainda há o ponto delicado da participação em eleições. Os anarquistas devem votar? Caso sim, devem formar um partido? De minha parte, assim como muitos anarquistas, eu acho que não. Votar é tomar parte na organização da falsa democracia que foi instaurada forçadamente pela classe média. Não importa se o voto é para a esquerda ou para a direita, a situação é a mesma. E, para organizar um partido, é necessário adotar uma estrutura hierárquica e o desejo de ter uma parte no exercício do poder.
Não podemos esquecer em que grau a presença do poder corrompe. Quando os antigos socialistas e sindicalistas chegaram ao poder na França em 1900- 1910, um forte argumento, é que eles se tornaram os piores inimigos do sindicalismo. Temos só que lembrar de Clémenceau e Briand. Esse é o porque, em um movimento muito próximo ao anarquismo, como os ecologistas, sempre me opus à participação política. Sou totalmente hostil aos movimentos verdes, e na França, temos visto muito bem quais são os resultados da participação política dosEcolos (ambientalistas) em eleições.
O movimento se dividiu em vários grupos rivais, três líderes declararam sua hostilidade publicamente, debates de falsas questões enevoaram o verdadeiro objetivo, dinheiro foi gasto em campanhas eleitorais e nada foi conquistado. De fato, a participação nas eleições reduziu fortemente a influência do movimento. O jogo político pode deixar de produzir importantes mudanças na sociedade e devemos rejeitar radicalmente tomar parte nisso.
A sociedade é muito complexa. Interesses e estruturas estão extremamente integrados uns aos outros. Não podemos esperar modificá-los pelo caminho da política. O exemplo das multinacionais é o suficiente para nos mostrar isso. Na visão da economia global solidária, a esquerda não pode mudar a economia de um país quando está no poder. Aqueles que dizem que uma revolução global é necessária, se não vamos apenas mudar o governo, estão corretos.
Mas isso significa então que não devemos agir? Isso é constantemente ouvido quando avançamos em uma tese radical. Como se o único modo fosse a política! Eu creio que anarquia primeiramente implica em objeção consciente – a tudo que constitui nossa sociedade capitalista (ou socialista e degenerada) e imperialista (seja burguesa, comunista, branca, amarela ou negra). Objeção consciente é uma objeção não somente ao serviço militar, mas a todas as demandas e obrigações impostas pela nossa sociedade: impostos, vacinações, educação compulsória, etc.
Naturalmente, sou favorável à educação, mas apenas se adaptada à criança e não obrigatória quando as crianças são obviamente não preparadas para aprender dados intelectuais. Temos de moldar a educação de acordo com os dons das crianças.
No que diz respeito à vacinação, tenho em mente um exemplo notável. Um amigo meu, um homem letrado, licenciado em matemática e anarquista (ou muito próximo de ser), decidiu retornar ao campo. Na dura região de Haut- Loire[14], ele criou gado por dez anos nos altos planaltos. Ele se negou – esse é o ponto da história – a vacinação obrigatória contra doenças do casco e da boca, alegando que se ele os criasse cuidadosamente, distante de qualquer outro rebanho, não haveria perigo de contrair qualquer doença. Foi aí que os problemas começaram a se tornar interessantes.
Oficiais veterinários vieram até ele e lhe aplicaram uma multa. Ele levou o caso à corte, mostrando provas da incompetência e de acidentes ligados à vacinação. Ele perdeu a primeira, mas na apelação, com a ajuda de relatórios de biólogos e veterinários importantes, foi triunfantemente absolvido. Esse é um ótimo exemplo do caminho em que podemos encontrar um pequeno espaço livre em um emaranhado de regulamentos. Mas nós temos que querer, não desperdiçar nossas energias, e atacando um único ponto, vencendo por repelir a administração e suas regras.
Temos uma experiência parecida na luta contra a Comissão Costeira da Aquitânia[15]. Através de enormes esforços, conseguimos bloquear certos projetos, que seriam desastrosos para a população local, mas apenas sob julgamento, até mesmo nos níveis mais altos.[16]Naturalmente, essas ações eram pequenas, mas, se realizássemos muitas delas, e fôssemos vigilantes, colocávamos em xeque a onipresença do Estado, apesar da “descentralização” promovida ruidosamente por Defferre, que fez a defesa da liberdade mais difícil. O inimigo hoje não é o Estado central[17] mas a onipresença da administração.
É essencial que apresentemos objeções a tudo, especialmente à polícia e à desregulamentação do processo judicial. Devemos desmascarar a falsidade ideológica dos vários poderes, e devemos especialmente mostrar a famosa teoria da regra da lei, que embala a democracia, que é uma mentira do começo ao fim. O Estado não respeita suas próprias regras. Devemos desconfiar de todas suas ofertas. Devemos sempre lembrar que quando ele paga, ele escolhe a música.
Recordo dos clubes de prevenção que fundamos em 1956 para lidar com jovens desajustados. Nossa premissa era que não eram os jovens os desajustados, mas a sociedade em si.[18] Enquanto os clubes eram financiados por muitas maneiras, incluindo subsídio, eles iam bem e progrediam, não ajustando pessoas à sociedade, mas ajudando-as a formar suas próprias personalidades e substituir atividades destrutivas (drogas, etc.) por atividades construtivas e positivas. Entretanto, tudo mudou quando o Estado tomou para si o financiamento total, sob as idéias de Mauroy, o ministro, que tinha sua própria idéia de prevenção, criando o Conselho Nacional de Prevenção, que foi um desastre.
Um ponto importante que quero enfatizar é que houveram muitos esforços sugeridos ao longo das linhas. Tenho em mente um muito importante, que é a objeção aos impostos. Obviamente, se pagadores individuais decidirem não pagar seus impostos, ou não pagarem a parte proporcional a gastos militares, isso não é um problema para o Estado.

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Parte do livro de Jacques Ellul - Anarquia e cristianismo.

Jacques Ellul - Anarquia e Cristianismo



Quando era jovem, tinha um horror por movimentos fascistas. Demonstrei contra as “Cruzes em chamas”[1] em 10 de fevereiro de 1934. Intelectualmente, eu era muito influenciado por Marx. Eu não nego que isto foi devido mais a considerações familiares do que intelectuais. Meu pai perdeu o emprego depois da crise de 1929, e tivemos que aprender como era estar desempregado em 1930.
Também houveram circunstâncias individuais. Como estudante, entrei em conflito com a polícia (em greves, por exemplo), e comecei a abominar não só o sistema capitalista como também o Estado. A descrição nietzschiana do Estado como o monstro mais indiferente de todos os monstros indiferentes me pareceu ser básica.
Embora eu gostasse das análises de Marx, incluindo sua visão de uma sociedade na qual o Estado seria extinguido, foram parcos os meus contatos com comunistas. Eles me enxergavam como um pequeno-burguês intelectual, pois eu não demonstrava total respeito pelas ordens de Moscou, e os considerava insignificantes, pois não demonstravam ter um verdadeiro conhecimento do pensamento de Marx.
Eles leram o manifesto de 1848, e foi tudo. Eu rompi com eles totalmente depois dos ensaios de Moscou, não favoráveis a Trotsky, pelos marinheiros de Cronstadt[2] e o governo Makhno me pareceu ser verdadeiramente revolucionário, e não pude perdoar seu esmagamento, assim como não pude acreditar que os grandes companheiros de Lênin eram traidores, anti-revolucionários, etc.
Para mim, a condenação dos marinheiros foi simplesmente outra manifestação do monstro indiferente. Também vi que houve, sem grandes dificuldades, uma transição da ditadura do proletariado à uma ditadura sobre o proletariado. Posso garantir que ninguém que estivesse disposto poderia perceber em 1935 e 1936, o que seria denunciado vinte anos depois. Ademais, nada havia sobrado dos dois princípios básicos do internacionalismo e do pacifismo, que deveria ter resultado em anti-nacionalismo.
Minha admiração por Marx também foi atingida pelo seguinte fato. Ao mesmo tempo em que eu lia Marx, também lia Proudhon, que não me impressionava tanto, mas que eu gostava muito, então me escandalizei com a atitude de Marx em relação a ele em sua disputa[3]. Por fim, o que me levou a detestar comunistas foi a sua postura durante a Guerra Civil Espanhola, e o terrível assassinato dos anarquistas de Barcelona.
Muitas coisas, incluindo contatos naquele tempo com anarquistas espanhóis, me atraíram para o anarquismo. Mas havia um obstáculo insuperável – eu era cristão. Eu vim de encontro a este obstáculo toda minha vida. Por exemplo, em 1964, fui atraído por um movimento muito próximo do anarquismo, o situacionismo.
Tive muitos contatos amigáveis com Guy Debord, e um dia eu perguntei abruptamente se eu poderia me juntar ao seu movimento e trabalhar com ele. Guy respondeu que poderia perguntar aos seus camaradas. Sua resposta foi franca. Como eu era um cristão, não poderia pertencer ao seu movimento.
De minha parte, não poderia renunciar minha fé. Reconciliar as duas coisas não era um problema fácil. Era possível conceber ser um cristão e um socialista. Houve um socialismo cristão por muitos anos, e aproximadamente em 1940 um socialismo moderado clamou seus ensinamentos morais da Bíblia. Mas parecia difícil ir além disso. Dos dois lados a incompatibilidade parecia ser absoluta.
Embarquei então em uma longa jornada espiritual e intelectual, não para reconciliar as duas posições, mas para ver se eu estava esquizofrênico. O estranho resultado foi que quanto mais eu estudava e mais eu entendia seriamente a mensagem bíblica em sua totalidade (e não simplesmente o “evangelho gentil” de Jesus), mais eu via o quanto impossível era conceder simples obediência ao Estado, e como havia na Bíblia uma orientação para um certo anarquismo.
Naturalmente, era uma visão pessoal. Nesse ponto, reparti a companhia com o teólogo que havia me formado, Karl Barth, que continuava a defender a validade da autoridade política. Mas durante os últimos anos, passei por outros estudos apontando na mesma direção, especialmente nos EUA: Murray Bookchin, que claramente admite que a origem do cristianismo estava no pensamento anarquista, e Vernand Eller.
Não devo esquecer o pioneiro, Henri Barbusse, que não era um anarquista de fato, mas cujo trabalho sobre Jesus mostrava claramente que Jesus não era um simples socialista, mas um anarquista – e quero salientar aqui que considero o anarquismo como a forma mais completa e mais séria de socialismo. Devagar então, e por conta própria, não emocionalmente, mas intelectualmente, cheguei à minha presente posição.
Preciso esclarecer mais um ponto antes de começar meu assunto. Qual é o meu propósito ao escrever estas páginas? Penso que isso é importante para evitar qualquer equívoco. Primeiro, isso deve ficar claro, não tenho nenhum objetivo proselitista.
Não estou tentando converter anarquistas à fé cristã. Isto não é simplesmente uma questão de honestidade. Repousa em bases bíblicas. Por séculos as igrejas têm pregado que devemos escolher entre danação e conversão.
Com bons pregadores e missionários zelosos, conversões têm acontecido a todo custo para salvar almas. Ao meu ver, entretanto, isso é um erro. Para ter certeza, há versículos que nos dizem que ao crermos, seremos salvos. Mas o ponto fundamental aqui é esquecido, de que não devemos pegar versículos fora de seu contexto (a história ou o argumento) ao qual pertencem.
Minha crença própria é de que a Bíblia proclama uma salvação universal na qual Deus em graça garante a todos nós. Mas o que dizer de conversão e de fé? Isso é outra questão. Não tem muito a ver com salvação, a despeito do senso comum. Isso é uma tomada de responsabilidade. Depois da conversão, nos comprometemos com um certo padrão de vida e a um certo dever que Deus requer de nós. Assim, aderir a fé cristã não é de forma alguma um privilégio em relação a outras pessoas, mas uma responsabilidade a mais, um novo trabalho. Não estamos, então, a empenhar-nos no proselitismo.
Por outro lado, não estou de maneira alguma tentando dizer aos cristãos que eles devem tornar-se anarquistas. Meu ponto é simplesmente esse. Entre as opções políticas, se eles tomarem um caminho político, não deveriam excluir o anarquismo de primeira, ao meu ver, ele parece ser a posição mais próxima do pensamento bíblico.
Naturalmente, sei que tenho poucas chances de ser ouvido, pois não é fácil ignorar preconceitos seculares inveterados. Devo também dizer que meu objetivo não é que os cristãos devam tomar essa posição como um dever, pois novamente, apesar da visão de muitos séculos, a fé cristã não nos traz um mundo de deveres e obrigações, mas sim uma vida de liberdade. Não sou eu quem digo isso, mas Paulo em muitos lugares (por exemplo: 1 Coríntios).[4]
Terceiro, não estou tentando reconciliar as duas formas de pensamento e de ação, duas atitudes de vida, as quais eu mantenho. Agora que o cristianismo não é mais dominante na sociedade, é uma mania estúpida da parte dos cristãos agarrar-se a esta ou aquela ideologia e abandonar aquilo que os embaraça no cristianismo. Por isso, muitos cristãos tornaram-se stalinistas após 1945.
Eles enfatizaram qualquer coisa que o cristianismo dissesse sobre a pobreza, justiça social, sobre tentativas de mudar a sociedade e negligenciaram o que achavam desconfortável – a proclamação da soberania de Deus e a salvação em Jesus Cristo. Nos anos 1970, vimos a mesma tendência nas chamadas teologias da libertação.
De uma forma extrema, foi encontrada a possibilidade de associação com movimentos revolucionários sul-americanos. Qualquer pessoa pobre era supostamente idêntica a Jesus Cristo. Assim, não há problema. Ao evento de dois mil anos atrás, pouca atenção é dada. Essas orientações foram largamente precedidas pelo protestantismo racional do começo do século XX, com suas simples suposições que a ciência sempre está certa, e tem a razão, e que para preservar a Bíblia e o Evangelho, devemos abandonar tudo o que for contrário à ciência e à razão, por exemplo, a possibilidade de Deus ter encarnado em um homem, juntamente com os milagres, a ressurreição, etc.
Finalmente, no nosso tempo, encontramos novamente a mesma atitude conciliatória de abandono de uma parte do cristianismo, dessa vez, em favor do Islã. Cristãos querem apaixonadamente se entender com muçulmanos, e em conversações (das quais eu participei), insistem fortemente em dois pontos de acordo, por exemplo, que as duas religiões são monoteístas e ambas são religiões do livro[5], etc. Nenhuma referência é feita ao ponto de conflito, ou seja, Jesus Cristo.
Eu me pergunto por que eles ainda chamam sua religião de cristianismo. Leitores estão prevenidos então, que eu não estou aqui para demonstrar um ponto de convergência entre anarquismo e a fé bíblica. Estou defendendo o que eu creio ser o sentido da Bíblia, o que pode se tornar para mim, a verdadeira Palavra de Deus.
Acho que dialogando com aqueles que possuem diferentes visões, se for para ser honesto, devemos ser verdadeiros a nós mesmos, e não dissimular ou abandonar o que pensamos. Embora leitores anarquistas possam achar nestas páginas muitas declarações que lhes pareçam chocantes ou ridículas, isso não me preocupa.
O que, então, estou tentando fazer? Simplesmente apagar um grande desentendido pelo qual o cristianismo é culpado. Tem se desenvolvido uma espécie de corpo que praticamente todos os grupos cristãos aceitam, mas que não tem nada em comum com a mensagem bíblica, seja na Bíblia Hebraica, que chamamos de Antigo Testamento, ou nos evangelhos e epístolas do Novo Testamento.
Todas as igrejas respeitam escrupulosamente e oferecem suporte à autoridade do Estado. Elas transformaram o conformismo em uma grande virtude. Elas toleraram injustiças sociais e a exploração de pessoas umas pelas outras, declarando que é vontade divina que alguns sejam senhores e outros servos, e que sucesso sócio-econômico é um sinal externo de bênçãos divinas.
Elas inclusive transformaram uma Palavra de liberdade e libertação em moralidade, o mais espantoso aqui é que não pode existir uma moral cristã se realmente seguirmos o pensamento evangelizador. O fato é que é muito mais fácil julgar erros de acordo com uma moral estabelecida do que enxergar as pessoas como um todo vivo e entender porque elas agem como agem. Finalmente, as igrejas instituíram um clero equipado com conhecimento e poder, embora isso seja contrário ao pensamento evangelizador, como foi inicialmente realizado quando os clérigos eram chamados de ministros, oministério sendo serviço e o ministro um servo dos demais.
Por isso, devemos eliminar dois mil anos de erros cristãos acumulados, ou tradições enganadas,[6] e não digo isso como um protestante acusando católicos romanos, pois somos todos culpados pelos mesmos desvios e aberrações. Não quero também dizer que serei o primeiro a fazer esse movimento, ou que eu descobri alguma coisa. Não pretendo ser capaz de desvendar coisas escondidas desde o princípio do mundo.
A posição que eu tomo não é novidade no cristianismo. Primeiro irei estudar as fundações da relação entre cristianismo e anarquismo. Então, darei uma olhada na atitude dos cristãos dos três primeiros séculos. Mas o que eu escrevo, não é um ressurgimento súbito após dezessete séculos de obscurantismo. Sempre houve anarquismo cristão.
Em todos os séculos houveram cristãos que descobriram a simples verdade bíblica, seja intelectual, mística ou socialmente. Entre eles, há grandes nomes, por exemplo, Tertuliano, Fra Dolcino, Francisco de Assis, Wycliffe, Lutero (exceto por dois erros, de recolocar o poder nas mãos dos príncipes e de apoiar o massacre de camponeses rebeldes), Lammenais, John Bost e Charles de Foucauld.
Para um estudo detalhado recomendo o excelente trabalho de Vernand Eller. Esta obra traz à luz o verdadeiro caráter do anabatismo, que rejeita o poder das regras e que não é apolítico, como comumente se diz, mas verdadeiramente anarquista, ainda com a nuance que cito ironicamente, que os poderes divinos são um flagelo enviado para punir os ímpios.
Cristãos, entretanto, se agirem de maneira correta e não forem ímpios, não precisam obedecer autoridades políticas, mas devem se organizar em comunidades autônomas à margem da sociedade e governo.
Mesmo com maior rigor e estranhamento, aquele homem extraordinário, Cristoph Blumhardt, formulou um anarquismo cristão consistente próximo do fim do século XIX. Pastor e teólogo, ele aderiu à extrema esquerda, mas não se juntou ao debate de tomar o poder. No Congresso Vermelho[8] ele declarou: “Estou orgulhoso de estar diante de você como um homem; e se a política não consegue tolerar um humano como eu, então a política que se dane!” Essa é a verdadeira essência do anarquismo: tornar-se um ser humano, sim, mas um político, nunca. Blumhardt teve que deixar o partido!
No meio do século XIX Blumhardt foi precedido no caminho anarquista por Kierkegaard, o pai do existencialismo, que não se deixou ser enredado por qualquer poder. Ele é desprezado e rejeitado hoje como um individualista. Para ser claro, ele condenou impiedosamente as massas e toda autoridade, mesmo a baseada na democracia. Uma de suas frases foi “não há engano ou crime mais horrível para Deus do que aqueles cometidos pelo poder. Por que? Porque o que é oficial é impessoal, e ser impessoal é o maior insulto que pode ser feito a uma pessoa.” Em muitas passagens Kierkegaard se mostra como um anarquista, embora naturalmente, não use o termo, pois este ainda não existia.[9]
Finalmente, a prova mais convincente de Eller é que Karl Barth, o grande teólogo do século XX foi um anarquista antes de ser um socialista, mas favorável ao comunismo, do qual se arrependeu. Esses simples fatos mostram que meus estudos não são uma exceção no cristianismo.
Juntamente com os ilustres intelectuais e teólogos, não devemos esquecer os movimentos populares, a constante existência de pessoas humildes que viveram uma fé e uma verdade que era diferente daquela proclamada pela igreja oficial, e que achava sua fonte direta mais no Evangelho do que no movimento coletivo. Essas vítimas humildes mantiveram uma fé real e viva sem serem perseguidas como hereges, pois não causaram escândalos.
O que estou adiantando, não é uma redescoberta da verdade. Ela sempre foi mantida, mas por um pequeno número de pessoas, na maioria anônimas, embora seus traços permaneçam.[10] Elas sempre estiveram lá mesmo que constantemente apagadas pelo cristianismo oficial e autoritário dos dignitários da Igreja.
Sempre que tentaram lançar uma renovação, o movimento começado nas bases do Evangelho e de toda a Bíblia foi rapidamente pervertido e reencontrou seu caminho na conformidade oficial. Isso aconteceu com os franciscanos após Francisco de Assis e aos luteranos após Lutero. Externamente, então, elas não existiram. Apenas vemos e conhecemos a pompa da grande Igreja, as encíclicas pontíficas e as posições políticas dessa ou daquela autoridade protestante.
Eu tenho um conhecimento concreto disso. O pai de minha esposa, que foi um não-cristão obstinado, me contou quando tentei explicar para ele a verdadeira mensagem do Evangelho, que fui o único a lhe dizer isso, que ele só ouvira isso de mim, e o que ouvia nas igrejas era o extremo oposto. Agora, eu pretendo não ser mais o único a dizer isso.
Agora há uma corrente fiel subterrânea, mas não menos invisível ao fiel. É isso que está mantendo a Palavra bíblica. Isso, e não o resto – a pompa, os espetáculos, declarações oficiais, o simples fato de organização de uma hierarquia (que o próprio Jesus claramente não criou), uma autoridade institucional (que os profetas nunca tiveram), um sistema judicial (ao qual os verdadeiros representantes de Deus nunca tiveram recurso). 
Essas coisas visíveis são o aspecto sociológico e institucional da Igreja, porém, não mais; eles não são a Igreja. Para quem está de fora, eles obviamente são a Igreja. Embora, não possamos julgar pessoas de fora quando elas mesmas julgam a Igreja. Em outras palavras, anarquistas estão certos em rejeitar o cristianismo.
Kierkegaard foi o atacante mais violento de todos. Aqui quero deixar outra observação e dissipar alguns equívocos. Eu não vou tentar justificar o que é dito pela Igreja oficial ou pela maioria destes que são chamados de cristãos sociológicos, esses que dizem serem cristãos (felizes em diminuir números, e são eles que deixam a Igreja em tempos de crise) e aqueles que se comportam precisamente de uma maneira não-cristã, como os patronos da Igreja no século XIX, que usavam certos aspectos do cristianismo para aumentar o seu poder sobre outros.
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Uma parte do livro Anarquia e Cristianismo de Jacques Ellul.


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Semana de reciclagem na IP Lapa

Nos dias 24 a 26 teremos a semana de reciclagem na Lapa todos os dias as 20:00 horas.
Teremos os seguintes preletores:
 
Dia 24: tema: Trabalho & Relacionamentos - Pr. Danillo Scarpelli Dourado: pastor da Igreja Presbiteriana Hebrom. Analista de Eventos Esportivo da Universidade Mackenzie. Especialista em Pregação Expositiva pelo Instituto Educacional John Knox. Especialista em Formação de Professores para a Docência do Ensino Superior pela Universidade Estadual do Paraná. Mestrando em Ciências da Religião pela Universidade Mackenzie. Professor de Antigo Testamento da FLAM. Ele é escritor com área de concentração em Antigo Testamento.

Dia 25: tema: Trabalho & Lazer - Marcos Larizzati: Formado em educação física (USP) formado há 21 anos. Pós-graduado em fisiologia do exercício. Pós-graduado em Psicomotricidade e Mestrado em Distúrbios do desenvolvimento. Autor do livro: Lazer e recreação para o Turismo. Ele é professor Universitário no curso de educação física.

Dia 26: tema: Trabalho & Stress - Rosângela de Souza Barbosa: Graduada em Administração de Empresas - Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pós-Graduada em Marketing - Escola Superior de Propaganda e Marketing MBA - Gestão Empresarial – Unicamp. Área de Atuação: Marketing - Empresa Sadia S.A. - Responsável pela área de Frios e Comemorativos.

Não deixe de participar e trazer um amigo para ouvir as palestras!
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E-mail: iplapa@uol.com.br
Rua Roma, 465 - Lapa

Todos se comunicam, poucos se conectam, de John Maxwell


Vivemos em uma era visual. As pessoas passam horas vendo YouTube, Facebook, Vimeo, PowerPoints, videogames, filmes e outras mídias. Você pode certamente entender a importância do que pode ser visto em nossa cultura. As pessoas esperam que qualquer tipo de comunicação seja uma experiência visual.
Todas as vezes que você estiver na frente de outras pessoas para se comunicar — independentemente do local, em um palco, em uma reunião, em um campo ou em uma mesa de café — a impressão visual que você causa ajudará ou atrapalhará você.
Se você quer aumentar sua habilidade de se conectar com as pessoas visualmente, então considere o seguinte conselho:
Elimine distrações pessoais. Se você estiver bem arrumado e usando a roupa certa para sua situação, então é um bom começo.
Pergunte a familiares ou amigos pessoais se você regularmente mostra algum comportamento que tire a atenção e o foco do que você quer comunicar.
Expanda sua gama de expressões. E embora estejamos atentos ou não, também transmitimos mensagens com nossas expressões faciais. Mesmo as pessoas que se orgulham de não demonstrar emoções e que dão duro para não abrir um sorriso nem deixar que os outros saibam o que estão pensando, estão transmitindo uma mensagem para os outros — desligamento. E isso torna o conectar-se com os outros quase impossível.
Se seu rosto, de alguma maneira, “fala” por você, melhor que ele comunique algo positivo. Não importa quem você é ou com quem você está tentando se comunicar, pode melhorar sua habilidade de sorrir para as pessoas e ser Se seu rosto, de alguma maneira, “fala” por você, melhor que ele comunique algo positivo. expressivo. Mesmo que trabalhe em um ambiente rígido ou em uma cultura corporativa fechada, você não precisa manter uma expressão sisuda o tempo todo.
Mexa-se com um senso de objetivo. Já ouvi dizer que ladrões e assaltantes de carteiras escolhem suas vítimas de acordo com a linguagem corporal delas. Se alguém caminha ligeiro, de forma confiante e alerta, os assaltantes, com frequência, os deixam seguir adiante e procuram por outra vítima — alguém que não ande de forma confiante e esteja distraído. O movimento sempre transmite uma mensagem clara quando alguém quer se comunicar.
Mantenha uma postura aberta. Barreiras físicas são sempre alguns dos grandes obstrutores da conexão para alguém tentando se comunicar. Todas as vezes que você remove obstáculos e reduz a distância, a conexão se torna mais fácil. E o toque físico elimina toda a distância. Um aperto de mão, um tapinha nas costas ou um abraço podem fazer muito para promover uma conexão.
Preste atenção aos seus arredores. Se você deseja se conectar, não pode se dar ao luxo de ignorar seu ambiente. Isso vale até mesmo se lhe tiverem solicitado a falar profissionalmente.
Você não pode supor que um ambiente será condutor para uma conexão, mesmo se tiver sido supostamente criado para a comunicação. Por isso, sempre tento conhecer o lugar reservado para uma palestra com antecedência. Quero garantir que nada na arrumação do auditório atrapalhe meu tempo com a plateia.
Se você quiser se conectar com os outros, precisa estar disposto a fazer ajustes. Se estiver tentando se conectar em casa com seu marido ou esposa, desligue a televisão. Se estiver planejando almoçar com um colega ou cliente, escolha um lugar silencioso o bastante para você conduzir uma conversa.

Bonhoeffer e o Sermão no Monte

A exposição do Sermão no Monte é outro elemento importante de O Custo de Discipulado. Nele, Bonhoeffer coloca ênfase especial nas beatitudes por entender ao Cristo encarnado e crucificado. É aqui que os discípulos são chamados "bem-aventurados" por uma lista extraordinária de qualidades.
Os pobres de espírito aceitam a perda de todas as coisas, especialmente a perda de si, de forma que eles podem seguir o Cristo. Os que choram são pessoas que vivem sem a paz e prosperidade deste mundo. O choro é a rejeição consciente da alegria na qual o mundo se regozija, e encontrar a própria felicidade e realização na pessoa de Cristo.
Os mansos, diz Bonhoeffer, são aqueles que não falam em defesa de seus próprios direitos. Subordinam continuamente seus direitos e eles mesmos para a vontade de Cristo primeiro e, por conseguinte, para o serviço dos outros. Igualmente, os que tem fome e sede de justiça também renunciam a expectativa que o homem pode fazer do mundo um paraíso. Sua esperança está na justiça que só o reino de Cristo pode trazer.
Os misericordiosos deixaram sua própria dignidade e se consagram aos outros, ajudando os necessitados, os fracos, e os desterrados. O puros de coração já não estão preocupados pelo chamado deste mundo; eles se resignaram para o chamado de Cristo e Seus desejos para suas vidas.
Os pacificadores detestam a violência que se usa freqüentemente para resolver problemas. Este ponto seria de significado especial para Bonhoeffer, que escrevia às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Os pacificadores mantêm a comunhão onde os outros encontrariam uma razão para romper uma relação. Estes indivíduos sempre vêem outra opção.
Os que são perseguidos por causa da justiça estão dispostos a sofrer pela causa de Cristo. Qualquer e toda causa justa se torna sua causa porque é parte da obra geral de Cristo. O sofrimento se converte em forma de comunhão com Deus. A esta lista se junta a bênção final pronunciada àqueles que são perseguidos para causa da justiça. Estes receberão uma grande recompensa no céu e serão comparados aos profetas que também sofreram.
A ênfase de Bonhoeffer no sofrimento est diretamente ligada ao sofrimento de Cristo. A igreja é chamada para suportar todo o fardo de Cristo, especialmente no tocante ao sofrimento, senão, irá se desmoronar sob o peso do fardo. Cristo sofreu, diz Bonhoeffer, mas seu sofrimento é eficaz para a remissão dos pecados.
Nós também podemos sofrer, mas nosso sofrimento não é para propósitos redentores. Nós sofremos, diz Bonhoeffer, não só porque é o que corresponde à igreja, mas de forma que o mundo possa nos ver sofrer e entender que há uma forma em que os homens possam suportar os fardos da vida, e que esse caminho é só através de Cristo.
O discipulado, para Bonhoeffer, não foi limitado ao que nós podemos compreender - tem que transcender toda a compreensão. O crente tem que mergulhar nas águas profundas, mais além da compreensão e ensino cotidiano da igreja, e isto deve ser feito individualmente e coletivamente.

É Deus quem traz a vitória na vida


- Texto para reflexão: Dá-nos auxílio contra o adversário, pois vão é o socorro da parte do homem. Em Deus faremos proezas; porque é ele quem calcará aos pés os nossos inimigos (Salmo 60.11 e 12).


Davi começa a engrandecer a Deus por causa da sua santidade e poder em ter absolutamente tudo em suas mãos. Assim ele termina o Salmo dizendo: Dá-nos auxílio contra o adversário, pois, vão é o socorro da parte do homem. Em Deus faremos proezas porque é ele quem calcará aos pés os nossos inimigos.

Davi juntamente com seu exército obteve vitória sobre os sírios e 22 mil homens caíram diante deles. Davi considerou isso uma ação formidável e uma prova grande do amor e favor divinos para com Israel. Por isso, a oração dele é que Deus lhe dá auxílio e ele percebe que o socorro do homem é totalmente ineficaz. Ele diz que em Deus fará proezas e ele sem dúvidas calcará os pés dos inimigos.
Interessante olharmos para as convicções de Davi sobre as ações do eterno Deus:

Ele nutre a esperança porque Deus age em seu favor;
• Ele sabe que Deus seria seu auxilio suficiente;
• Ele sabe que Deus manifestará o seu poder em favor da sua vida.

As lições profundas deste Salmo estão reais e palpáveis para nós hoje. Precisamos pedir para que Deus nos restaure e nos conduza pelos seus caminhos, pelos seus propósitos eternos. Precisamos confiar no caráter do eterno Deus. Ele não é homem, ele não vacila nas palavras como todos nós. O que ele diz, ele cumpre absolutamente e pronto.
Nós vacilamos, nós voltamos atrás nas nossas ações. Ás vezes, até mentimos nas atitudes, mas Deus vela sobre a sua palavra para cumpri-la. Os homens são vãos para a confiança, eles não cumprem o que dizem. Deus, ao contrário, lembra-se do que prometeu e cumpre na vida de Davi. Esta certeza traz ao coração de Davi mais confiança e por isso, ele pode dizer: Em Deus faremos proezas.
Exatamente com esta certeza peçamos para que ele lute a nossa causa com o seu poder e majestade. Reconheçamos sempre que a terra e tudo o que nela há lhe pertence.
Deus é o Senhor absoluto e nós somos seus servos. Ele tem o domínio sobre todas as coisas. Ele quem traz a vitória para nós, ele quem traz socorro, esperança, forças, refúgio e confiança para o nosso coração. Ele quem pisa nos pés dos nossos adversários e não permite que eles tenham êxito diante de nós como servos do todo poderoso.
Esta verdade precisa fazer parte da nossa caminhada e não podemos abrir mão da confiança plena em Deus.
Termino lembrando uma frase de Hudson Taylor: “Coloque missões em primeiro lugar e Deus dará as coisas necessárias".
Este homem com toda certeza poderia dizer: Em Deus faremos proezas.
___________
Alcindo Almeida

David Livingstone - um homem extraordinário

David Livingstone mexe com o coração da gente sem dúvida alguma.  Gravados para sempre na história da Igreja de Cristo estão os grandes êxitos na África durante um período de 75 anos depois de sua morte, êxitos inspirados, em grande parte, pelas orações e persistência desse servo de Deus, que foi fiel até morte. Ele deu a sua vida pelo povo africano.
E hoje está gravada no seu túmulo a seguinte frase: "O coração de Livingstone jaz na África, seu corpo descansa na Inglaterra, mas sua influência continua".
Que Deus nos dê a graça de sermos pessoas que marcam a história da vida humana com a verdade do Evangelho dentro de nós. Que imitemos a Paulo que dizia: Sede meus imitadores como eu sou de Cristo. 

Uma frase importante do Conde Zinzendorf

“Meu destino é proclamar a mensagem sem me importar com as consequências pessoais para mim mesmo” (Conde Zinzendorf).


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Uma visita a um idoso da igreja


Hoje fiz uma visita a um idoso da igreja...O nome dele é Mauro. E depois de servir a Ceia para ele, a sua fala foi: "Pastor, sinto falta da comunhão dos irmãos. Eu sinto falta de estar na igreja...Eu tenho saudades quando podia andar e ir para celebrar na Lapa". Fiquei emocionado ao ver isto num homem já com cabelos brancos e sofrido pelos problemas de saúde...
Penso que muitos têm saúde, disposição, carro, e etc, mas não têm disposição para celebrar em comunidade!
Que digamos como o salmista: Alegrei-me quando me disseram, vamos a casa do Senhor (Salmo 122.1).


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Os escritos de Teresa de Ávila

Se a oração é muito negligenciada hoje, nos tempos de Teresa ela também era alvo de muita desconfiança. Em 1525, a Inquisição condenou quarenta e oito proposições dos alumbrados (aqueles que buscavam experiências místicas através da inspiração interior). O temor da possessão demoníaca era outra preocupação à época.
Assim, a sociedade espanhola daquele tempo não via com bons olhos mulheres como Teresa, ou qualquer pessoa que tivesse experiências místicas de oração. Diante dessas circunstâncias, ela tomou a sábia atitude de buscar conselheiros espirituais e de estar aberta para descrever na sua totalidade o estado de sua alma. Ela assim fez através de vários documentos que foram publicados posteriormente.
Primeiro, ela compôs uma série de Relações Espirituais para informação de seus confessores. Em seguida, empenhou-se na descrição detalhada de sua Vida em 1562, a pedido do Padre Garcia de Toledo.
Não se trata de uma autobiografia propriamente dita, assim como as Confissões, de Agostinho ou Abundante Graça, de Bunyan não são biografias. Ao contrário, trata-se de uma apologia do crescimento de sua vida espiritual. Ela mesma negou que o livro fosse a história de sua vida, preferindo chamá-lo de As Misericórdias de Deus. Quando outro de seus conselheiros, Domingo Bãnez, não autorizou suas freiras a ler A Vida, elas imploraram a ela que lhes escrevesse algumas orientações simples acerca da oração vocal.
Caminho de Perfeição (1566) foi sua resposta ao pedido de que escrevesse “algumas coisas sobre a oração”. Três anos depois, ela revisou essa obra. Nela, ela enfatiza que a oração incessante é a verdadeira vida do cristão, porque Cristo está ao lado dele o tempo todo.
Teresa também havia escrito o seu Meditações sobre o Cântico dos Cânticos, possivelmente em 1566; ela o revisou entre 1572 e 1575.
Foi algo ousado de se fazer, tendo em vista a prisão do Frei Luis de Leon, de 1572 a 1577, por ter traduzido o Cântico de Salomão para o espanhol. De fato, Teresa não tinha nenhum conhecimento de latim, de modo que seu acesso às Escrituras se dava somente por meio da compreensão de referências bíblicas no breviário – um livro contendo orações, hinos, etc., que os clérigos na igreja católica memorizavam – e outros livros.
Uma solicitação adicional foi feita pelo padre Graciano em 1577 para que Teresa escrevesse outro livro sobre a vida espiritual, uma vez que a Inquisição havia tomado posse de seu livro Vida. Ela tinha sessenta e dois anos, e, após cinco anos de vida contemplativa em união com Deus, Teresa escreveu O Castelo Interior em poucos meses.
Talvez essa seja a sua obra prima sobre a vida de oração. Como mostram algumas de suas cartas, aquele ano em particular foi difícil para ela, marcado por perseguições e calúnias. No entanto, foi também um ano de riqueza espiritual. Teresa escreveu Máximas ou “Admoestações às suas freiras” em 1582; que foram publicadas com Caminho de Perfeição.
Após sua morte, Frei Luis de León editou suas Meditações ou “Solilóquios da Alma para Deus” em 1588. Eles revelam alguns dos sentimentos religiosos mais íntimos de Teresa. O Livro dos Fundamentos foi iniciado como um diário dos começos de cada uma de suas casas. Ele foi escrito de 1576 a 1582 e publicado em 1610.
Suas outras obras menores, que não estão incluídas nesta presente antologia, são: Constituições Dadas às Suas Freiras, 1568; Julgamento; e Método de Visitação dos Conventos das Freiras Carmelitas Descalças. Ela escreveu vários poemas e hinos, alguns intercalados em sua correspondência e outros manuscritos.
Allison Peers selecionou trinta e um deles. Algumas de suas 441 cartas também foram selecionadas e editadas junto com outros vinte e sete fragmentos, material que está datado entre 1546 e 1582.
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James M. Houston - Teresa de Ávila. VIDA DE ORAÇÃO - PARA QUEM DESEJA CONHECER DEUS NA INTIMIDADE, Brasília, 2007, pp. 12-14.

O APRENDIZ DE LAVA-PÉS. II


A crise é antiga. O gênero adâmico não aprecia viver ao rés do chão. Ele foi feito do pó da terra. Vive sujo, mas detesta aspirar a poeira dos pés alheios, enquanto aspira ao trono da glória, como se fosse um deusinho soberano. O ar de importância faz parte do DNA da raça caída, que adora construir jiraus e palanques para se apresentar saliente.
A síndrome do púlpito, o desejo da plataforma, o gosto pelos palcos e a ânsia por serem vistos, a qualquer custo, como artistas Vips ou gente importante são procedimentos do complexo de inferioridade que se alastrou nos anões que sonham sendo gigantes.
Os discípulos de Jesus, Deus encolhido num homem, conviviam com o conflito permanente de altar. Eles queriam ser ou saber quem era o maior. Por três vezes a crise se instalou no colégio apostólico, gerando disputa, olho gordo e dor de cotovelo entre eles.
Na primeira tensão, Jesus pegou uma criancinha e colocou no meio deles, dizendo: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Mateus 18:3. O modelo de grandeza aqui foi um bebê, todavia, eles estavam embebedados pelos conceitos dos governos terrenos. Para o mundo inchado, grande é quem senta em tronos e tem muitos servos a seu serviço.
A segunda articulação visava à posição de nobreza dos filhos de Zebedeu, ambos, “Zé ninguém”. Pretendiam assumir dois ministérios como Plenipotenciários. Jesus mostrou, neste caso, que grande, no reino de Deus não é quem tem muitos servos, mas quem serve a muitos, com um espírito de humildade. Eles, porém, jaziam sem entender nada.
Vem a terceira convulsão de altivez e Jesus toma uma bacia com água e uma toalha, a fim de demonstrar, na prática, o que é a grandeza no âmbito da Trindade.
Se quisermos ser reconhecidos como discípulos de Jesus, teremos que aprender esta lição elementar. Água, bacia e toalha. Retire a túnica da pomba e aprenda a ficar de cócoras, com a popa quase no chão, olhando, não para a cabeça das pessoas, mas para os seus pés sujos. Aqui reside o padrão da realeza diante do trono celestial.
O Deus que lavou os pés dos perturbados pelo poder, que ansiavam ser graúdos neste mundo, é o Criador do Universo, o Senhor da história, por isso mesmo, não há opção para os seus discípulos. A grandeza nos céus é às avessas ou de cabeça para baixo.
Como aprendizes, nós fomos escolhidos para a missão de lavar os pés empoeirados de todos, inclusive daqueles que têm os seus pés rachados, imundos, mal cheirosos, defeituosos, sangrentos, embora, sempre amados, muito amados, os mais amados por Aquele que teve os seus pés transpassados por um amor jamais superado.
Se você e eu somos discípulos do Deus acocorado aos pés dos perversos pecadores, então dispamos dessa roupagem de Sua Majestade terrena e, revistamo-nos dos trajes simples de Sua Alteza, o Mendigo, cheio de graça, humildade e mansidão.
Ó Senhor da submissão, tu disseste: eu nada fiz aqui terra que não tivesse visto meu Pai fazer. (Sem dúvida, lá no céu). Então, a idéia de lavar os pés dos teus discípulos arrogantes, naquele dia, foi do teu Pai, arraigado de amor eterno. Agora, em teu nome, como aprendizes do lava-pés, suplicamos que o teu Aba nos dê da tua modéstia, a ponto de lavarmos os pés dos irmãos, dos amigos e também dos nossos inimigos, com a mesma postura e o mesmo desprendimento que o Senhor demonstrou. Se não for por teu milagre, ninguém conseguirá esta façanha como um filho de Aba.
No teu nome, que é sobre todo nome. Amém.
Do aprendiz de lava-pés,
______________
Glenio Paranaguá.

A tragédia do excesso


- Texto para meditação: "Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas." (recomendação de Paulo ao jovem Timóteo em II Tm 4:5)

Excesso, segundo o dicionário Aurélio, é aquilo que excede ou ultrapassa o permitido, os limites, o legal, o normal. Alguns podem gerar incômodos e transtornos, como excesso de barulho, excesso de gordura ou peso, excesso de suplementos alimentares. Outros podem gerar discórdias, riscos, perigos, como o excesso de vontade, de velocidade, de trabalho; excesso de zelo, excesso de disciplina.
Vemos muitos adolescentes e jovens experimentando o excesso do álcool, da droga. Adultos em excesso de trabalho, de falsidade, de mentiras.
Hoje sofremos com o excesso de informações. Alguns chegam a chamá-la de “mal do século XXI”. Para concordar com isso, basta pensar nos jornais que você precisa ler diariamente; nas revistas que devem mantê-lo informado; nos livros que esperam na fila para serem lidos; nos filmes que gostaria de assistir; na centena de emails a serem lidos e respondidos, alguns, inclusive, cheio de informações aparentemente interessantes
Alguns sofrem com o excesso de confiança, desconsiderando riscos, menosprezando princípios, contemporizando valores.
A verdade é que todos estamos sujeitos à prática de excessos. Ele pode acontecer ou se apresentar das mais diferentes formas e roupagens. Às vezes ele será de difícil discernimento. Quando percebemos ou damos conta, já estamos metidos nele.
É preciso uma constante, cuidadosa e intencional vigilância, como uma boa dose de humildade, e com muita oração para prevenir-se dos excessos.
Até mesmo quando falamos de um dos direitos fundamentais do homem – a liberdade, devemos nos cuidar para que o excesso de liberdade não desvirtue, deforme, gere conflitos, ou transforme-a num mal a nós e à nossa sociedade.
Charles Kingsley, escritor inglês do séc XIX, escreveu: “Há dois tipos de liberdade – o falso, no qual o homem é livre para fazer o que bem entende; e o verdadeiro, no qual o homem é livre para fazer o que deve”.
Pode o excesso de liberdade confundir-se com o excesso de tolerância com a ausência de valores, de limites, de princípios.
E o excesso de tolerância com essas ausências pode gerar inverdades que tentam se impor como verdades em nossa sociedade. É assim que nos tornamos tolerantes com a mentira, ao ponto de transformá-la em instrumento de conduta em nossos relacionamentos. É assim que nos tornamos tolerantes com os princípios de honestidade, e agimos à margem deste principio através de nossas escolhas.
“Você não pode controlar o que acontece a você, mas você pode controlar as suas atitudes em relação a tudo que acontece a você e ao fazer isto, estará controlando ao invés de ser controlado.” Brian Tracy, autor canadense nascido em 1944.
Não podemos fechar os olhos diante dos perigos do excesso. Ou agir como se a vida não nos apresente a conta ou nos puna pelos excessos.
A recomendação do apóstolo Paulo ao jovem Timóteo em sua segunda carta nos é bastante oportuna nesses tempos: “Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas.” (II Tm 4:5)
Por isso...

ESCOLHA AGIR COM SOBRIEDADE

Agir com sobriedade é ser sóbrio, temperante, sob medida, comedido, moderado.
É agir com ausência de artificialidade, de complicação. É agir com simplicidade.
Essa sua atitude pode ter como base as condições e circunstancias que o cercam, o modo que as pessoas lhe tratam, ou uma série de outras coisas. Mas ela deve ser exatamente aquela atitude que você escolheu tomar.
Tenha a disposição de fazer isso!
O jornal “USA Today” contou uma história certa vez sobre um rapaz que entrou em coma por conta de um terrível acidente de automóvel. E lá permaneceu, não por dezenove dias ou meses, mas por dezenove anos. Eles o entrevistaram logo depois que ele despertou de sua longa inconsciência e perguntaram-lhe: “Como você finalmente foi capaz de começar a falar?”. Bem, ele disse, parando para considerar isso pela primeira vez, “eu apenas decidi começar a mexer meus lábios”.
Enquanto li o artigo do jornal não pude evitar em pensar: “Se tudo o que foi preciso para romper um coma de dezenove anos foi começar a mexer os lábios, por que você não fez isso dez anos atrás?” (citado por Bill Hybels em “Axiomas”, Ed Vida, pág 161)
Por que viver os excessos da amargura e do ressentimento, em vez da temperança e do perdão?
Por que viver o excesso da superficialidade, da artificialidade, da complicação, em vez de desejar uma vida mais simples e prazerosa?
Por que viver a vida excessivamente voltada ao exterior, ao aparente, em vez de cultivar a vida interior?
Por que viver a vida excessivamente voltada ao seu “mundinho” sem enxergar um mundo imenso que há lá fora?
Saiba: há dois mundos diante de você – um interior e outro exterior. Aprenda a apreciá-los.
Por que viver o excesso da crítica, em vez da alegria do elogio, do apreço, do reconhecimento do outro, no outro e através do outro?
Por que viver o excesso da arrogância, da soberba, da prepotência, em vez de praticar a humildade como sinal da verdadeira coragem e confiança?
Deseje uma vida da maneira mais autêntica, transparente e verdadeira possível. Fuja da artificialidade, superficialidade e complicação. Exercite a temperança. Seja moderado. Sóbrio.
Que Deus o abençoe rica e abundantemente,
Em Cristo.

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Pr. Hilder C Stutz